Apesar dos exercícios de mobilidade que fiz, em tempos, no ginásio, sempre tive dificuldade em me mexer daqui para fora. De modo que, surpreendentemente, porque isto nunca aconteceu aqui, não sou a melhor pessoa para falar do tema deste mês, que é o turismo, como deu para ver nas páginas anteriores. Na verdade, não sou a melhor pessoa para muita coisa, mas é o que temos e a mais não somos obrigados.
Terão reparado (se não repararam, mas estão a ler isto, vão já reparar) que sou bom a ‘viajar na maionese’, como se passou a dizer desde que Pedro Granger utilizou a expressão, numa edição do Ídolos. Felizmente, não se passou a usar também dois relógios, como ele fazia. Cá está: eu a ‘viajar na maionese’, embora prefira outros molhos. Mas isso agora não interessa nada, como dizia a Teresa Guilherme. O que é pena, eram boas viagens que eu tinha para contar.
Embora me movimente pouco, já fui a sítios, dentro e fora de Portugal, invariavelmente para ver bola. Excetuando Palma de Maiorca, onde fui em pequeno, para ver alforrecas. Quer dizer, não era esse o plano da família, mas quando lá chegámos foi isso que aconteceu. O mar é fixe e quente, é a mensagem que vos posso deixar. Embora seja suspeito, porque estou habituado ao mar do norte de Portugal.
Em termos de estrangeiro, aferi também que as crianças inglesas e irlandesas não devem fazer desenhos em que o céu é azul, deixam só a folha em branco, porque é esse o tom natural do céu deles. Em Manchester, as casas e as pessoas são cor de tijolo, seja pela base que as raparigas põem na cara, seja por já terem nascido assim, tipo, paquistanesas. Em Sevilha, faz calor em novembro e as batatas fritas são boas. Na Holanda, as batatas fritas também são boas, mas nem em agosto faz calor, muito menos em novembro. No Algarve, faz calor todo o ano e também parece o estrangeiro. Viram? Só coisas úteis que eu vos disse, informações que não encontram noutros magazines. De nada, ora essa.
Tudo isto para dizer que viajar para fora cá dentro também pode ser bastante catita. Sobretudo para quem, como eu, é preguiçoso e sempre teve e ainda tem o sonho de ir ao Brasil – e lá ficar, eventualmente. Atualmente, basta andar nas ruas de Braga para perceber que há cada vez mais gente com um sotaque minhoto esquisito, assim a fugir para o carioca, a circular por cá. Como diz o povo, se Maomé não vai ao Cristo Redentor, vem o Cristo Redentor até Maomé. Se bem que, religiosamente, isto que acabei de escrever é capaz de ser a maior heresia de sempre. Mas é o ditado que há, não tenho culpa, já muito invento eu.
Falando nisso, o turismo hispano-religioso também vai começar a bater forte neste mês. Sendo que as grandes atrações da nossa zona acabam por se anular uma à outra: por um lado, sim senhor, temos excelentes igrejas, magníficas procissões e belas decorações em tons de roxo; por outro lado, os turistas não podem encher o bandulho à vontade, por causa do jejum da quaresma. Só podem mesmo ‘viajar na maionese’ a acompanhar hamburgers.