Revista Rua

2019-12-10T11:59:58+00:00 Opinião

2019 não desiludiu

Música
José Manuel Gomes
10 Dezembro, 2019
2019 não desiludiu

Mais um ano que passou a voar. 2019 foi um ano musicalmente forte e com o regresso da música de intervenção e de reivindicação dos direitos raciais e de género como há muito não se via. No fundo, como sempre, a cultura anda de mãos dadas com a realidade e a atualidade; 2019 não foi exceção.

Chegando à reta final de mais um ano, chega também a altura de fazer as habituais listas de melhores discos do ano, essa retrospetiva em jeito de balanço para fazer a revista daquilo que foi o ano. Pois bem, já tinha feito um balanço dos primeiros seis meses do ano anteriormente, mas convém aqui recordar algumas coisas. 2019 entrou a todo o gás com uma primeira metade cheia de trunfos e de lançamentos que certamente não serão esquecidos. Logo a iniciar o ano fui arrebatado pelo disco de Helado Negro intitulado This is How You Smile, que se apresentou como um belíssimo disco de pop alternativo. Foi de resto, de acordo com as minhas contas nas plataformas de streaming, o disco que mais ouvi neste ano. Depois, Y La bamba com o disco Mujeres, a formação de Portland e originária do México a mostrar que por vezes menos é mais, com uma fórmula tremendamente simples na composição, a mostrar ao mundo um disco tremendo.

Depois, algo que já tinha sido evidente no ano passado: o regresso dos anos 90! Sim, não falo da famosa festa que corre o país, mas sim da tendência que já se vinha adivinhando desde o ano passado, com alguns trabalhos a irem beber ao pop rock dessa década. Trabalhos como os editados por Stella Donnelly, Jay Som, Hovvdy ou SASAMI mostram que também as tendências musicais são cíclicas ao recuperar um tipo de sonoridade que já não se via – ou melhor, ouvia – há coisa de 20 anos. Neon Indian editou para mim a música do ano acompanhada por um vídeo que é do mais atual que pode haver. O mundo atravessa períodos difíceis na política, na sociedade e em praticamente tudo. A música do ano é, para mim, “Toyota Man” e o seu poder de intervenção com um vídeo repleto de intenção, que vai ao osso, e que ridiculariza a realidade norte-americana.

Segue-se aquela escolha difícil de nomear o melhor disco do ano. Na verdade, não me lembro de ter tantas dificuldades em escolher um trabalho como o melhor de todos, num determinado ano. A razão é simples: houve pelo menos uns cinco discos que gostei de igual forma e que os considero obrigatórios e no mesmo patamar, apesar de tremendamente diferentes. Passo a elencar: Tool com Fear Innoculum; Tyler, the Creator com Igor, Big Thief com Two Hands, Angel Olsen com All Mirrors e Thom York com Anima. Estes foram os trabalhos discográficos que mais gostei e ouvi – além do já acima mencionado disco de Helado Negro – e que demonstram bem a diversidade e a transversalidade na qualidade dos mais diversos lançamentos.

Outros trabalhos fantásticos foram saindo tais como os regressos de Toro y Moi, Weyes Blood, Sharon Van Etter, Vampire Weekend, Whitney, Nick Cave (obra prima!) ou Deerhunter.

No plano nacional, o prémio de melhor disco do ano vai para Desalmadamente de Lena d’Água. Outros como Aurora dos Sensible Soccers, NU de First Breath After Coma, Vida Nova de Manuel Cruz, Miramar Confidencial de David Bruno, Mais um de S. Pedro ou A Invenção do Dia Claro de Capitão Fausto também mostram a qualidade e diversidade que existe em território nacional.Resumindo, 2019 foi um ano de muita e boa música. Esperemos que 2020 seja igual ou melhor. Votos de um feliz Natal e boas entradas em 2020 a todos os leitores da Revista RUA!

Lista completa dos melhores discos de 2019 (na minha opinião):

Y la Bamba – Mujeres;
Lomelda – M for Empathy;
SASAMI – SASAMI;
Helado Negro – This Is How You Smile;
Stella Donnelly – Beware of the Dogs;
ALASKALASKA – The Dots.
Deerhunter – Why Hasn’t Everything Already Disappeared?;
Sharon Van Etten – Remind Me Tomorrow;
Toro y Moi – Outer Peace;
Girlpool – What Chaos is Imaginary;
Solange – Wen I Get Home;
Foals – Everything Not Saved Will Be Lost Part 1;
Weyes Blood – Titanic Rising;
Local Natives – Violet Street;
Vampire Weekend – Father of the Bride;
Big Thief – U.F.O.F.;
Big Thief – Tho Hands;
Hot Chip – A Bath Full of Ecstasy;
Tyler, the Creator – IGOR;
Thom Yorke – ANIMA;
Angel Olsen – All Mirors;
FKA Twigs – MAGDALENE;
Tool – Fear Innoculum;
Whitney – Forever Turned Around;
Jay Som – Anak Ko;
Hovvdy – Heavy Lifter;
Nick Cave – Ghosteen.

Sobre o Autor:
Signo escorpião, sei informática na ótica do utilizador, programador do espaço cultural Banhos Velhos e sou um eterno amante de música, do cinema e do Sozinho em casa.

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