A Arte e o Belo numa viagem por Veneza sem sair de Lisboa
Nesta exposição realizada em colaboração com o Museo Thyssen-Bornemisza, de Espanha, existe uma viagem ao sonho. A pintura veneziana do século XVIII, caraterizada pelas temáticas de feste, celebrações realizadas na cidade Sereníssima, as vedute, que representam as vistas de paisagem, e os capricci, imagens que logram da imaginação diferentes autores, transporta-nos para um ambiente de cor, cuja palete evolui conforme o seu mestre. E, parecendo que não, algo de similar existe entre a cidade dos canais e Lisboa, muito possivelmente, a luz, reflexo das águas irradiando nas estruturas, as pequenas cheias, que acorrem às zonas baixas, relembrando que estamos em diferentes níveis com o mar.
Na exibição, brilhantemente organizada no espaço físico para o efeito, podemos reconhecer não apenas as obras e autores, mas também todo o esplendor de uma época. A cultura, a evolução da sociedade, os ritos e a forma de celebrar, como não poderia deixar de ser, o religioso, repetindo-se o Dia da Ascensão como elemento comum. Em maior detalhe, as típicas personagens que caracterizam os elementos de luxo de Veneza. Mascarados, plumas e vestidos, deliciando-se com as vistas, ou simplesmente contemplando a festa a partir das gondolas ricamente enfeitadas.
Simultaneamente ficamos também a saber o que era o “Grand Tour”. Viagens exclusivas a famílias com posses, nas quais os seus jovens teriam a oportunidade de conhecer diferentes cidades europeias, em prol do seu crescimento, independência e aprendizagem. Claramente que Itália se destacava pela beleza, pela arte, arquitetura e cultura, sendo Veneza um ponto de paragem obrigatório.
Giovanni Antonio Canal, mais conhecido por Canaletto, Francesco Guardi, Bernardo Bellotto e Gianbattista Tiepolo, são alguns destes artistas, “maestros” das imagens que apresentam, geralmente, os canais como símbolos inequívocos, confirmando ainda e sempre a presença dos emblemáticos pontos famosos de Veneza.
A exemplo, Guardi, que representa numa das suas obras, a Praça de São Marcos no dia da festa da Ascensão. Com o motivo da celebração, a Praça enche-se para expor as mercadorias e produtos artesanais e, assim foi retratada. No detalhe observa-se sempre o destaque para a urbe citadina, com as suas cúpulas e torres, igrejas e basílicas, em minucioso desenho geométrico.
“Ao deslizar pelos canais sob o sol intenso, observei os gondoleiros flutuando leves no extremo das suas gôndolas, vestidos de cores vivas, remando; e como eles se recortavam no céu azul sobre o espelho esverdeado da água. Tinha diante de mim a mais bela e a mais autêntica pintura da escola veneziana” – Johann Wolfgang Goethe, Viagem a Itália 1786-1788.
A cidade roubada ao mar, porta entre o Oriente e Ocidente, e cuja arquitetura e edificado têm por base o empilhamento de estacas de madeira e pedra de Ístria, é desta forma representada, entre os elementos de “vedutismo”, e as festas religiosas, mas que aportavam um caráter de luxo à sociedade veneziana no séc. XVIII.
Nas obras em exposição, o detalhe requer, assim, a atenção do visitante, pois está pleno de pequenos outros elementos que configuram um trabalho imenso.
Pode ser vista até dia 13 de janeiro, em Lisboa.
