Revista Rua

2024-07-12T19:01:07+01:00 Cultura, Literatura

A Cicatriz, o novo romance de Maria Francisca Gama

Poderá o tempo sarar feridas que deixam cicatrizes eternas?
Cláudia Paiva Silva12 Julho, 2024

A Cicatriz, o novo romance de Maria Francisca Gama

Poderá o tempo sarar feridas que deixam cicatrizes eternas?

Em A Cicatriz, passamos das emoções nobres, do amor e amizade, da tolerância, da compreensão e empatia, dos sorrisos e água salgada do mar, para sentimentos de impotência e verdadeiro terror. Aliás, se houvesse uma balança que pesasse sentimentos e emoções, entre o positivo e o negativo em escala de cores, o negro, escolhido geralmente para a tristeza, ganharia. Afundar-se-ia rapidamente como uma âncora largada ao mar, prendendo um barco, ou um corpo, a um momento único, a um local, à certeza intemporal que nunca haverá esquecimento possível.

Na história, um casal viaja para um local que tem tanto de exótico, como de profundamente violento e perturbador. Poderíamos apontar a “culpa” ao país, à cidade escolhida, aos “bandidos”. Mas na verdade sabemos que os requintes de maldade estão em qualquer lado, mais ou menos encobertos de acordo com a evolução social que os “status” sociais definem. Violência doméstica é algo que se passa muitas vezes em 4 paredes, e ninguém sabe nem vê. Mas uma violação, por alguém conhecido ou desconhecido, é algo que dilacera para sempre a alma – um assombro medonho que uma mulher, ou homem, nada pode contra, sob ameaça, ou em risco de vida.

A Cicatriz poderia ser sobre perdão – e também o é. Ou poderia ser sobre a sobrevivência após o trauma. Contudo, no caso, a sobrevivente, entre o choque e a memória, prefere arrancar várias vezes as várias crostas que se vão formando. Primeiro afastando-se de tudo aquilo que lhe parecia ser um porto seguro, pilares de segurança que se mostraram tão frágeis quanto a vida pode ser. Depois, num resgate de memória que se lê ao longo das páginas, afastar-se de si mesma, quando a dor não tem mais espaço para coexistir. Porque a vida não voltou a ser a mesma. Nunca o será.

A Cicatriz tem edição da Suma das Letras (grupo Penguin Random House Portugal)

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