De relevância não apenas para a economia do país, a arte de trabalhar o calcário em Portugal faz parte da própria identidade regional. Contudo, poucos sabem sobre a sua origem natural, através da deposição dos minerais dissolvidos a partir de corais e conchas, ao longo de milhões de anos, no fundo marinho.
Aí reside a primeira surpresa, para quem não conheça. Há milhões de anos, toda a zona oeste, desde as praias longas de areal que conhecemos, até à região da Serra de Aire e Candeeiros e um pouco mais para “dentro” era mar. Ainda que de pouca profundidade, foi a origem da rocha tal como hoje a conhecemos. Pedra de cor variável, mas geralmente branca imaculada, que embeleza as principais obras edificadas. E não só no nosso país, como também lá fora.
Reconhecimento mundial pela qualidade e características únicas, o Calcário, rei e senhor, é agora exposto no Museu da Batalha. Tendo por principal objetivo não apenas a divulgação científica, procura-se, nesta mostra, estabelecer uma relação ainda mais próxima entre a população e a expressão natural. A rocha, enquanto elemento da paisagem, e a rocha, enquanto elemento para a utilização humana.
Isto porque tudo o que nos rodeia depende de materiais e matérias-primas provenientes de elementos geológicos. O calcário não é exceção se pensarmos nos nossos utensílios do dia a dia, nas nossas casas, até mesmo nos nossos medicamentos e alimentação (por via do carbonato de cálcio, por exemplo).
Numa visita que, explica a museóloga Ana Mercedes Stoffel, poderá ser feita em 15 minutos, ou ao longo de um dia inteiro, “A pedra e a Batalha” revela-se o itinerário desde a origem, passando pela extração e transformação, até à homenagem às mulheres e homens que souberam trabalhar o original, cru e rugoso, transformando-o em obra prima.
Um legado que merece o cuidado de todos, o respeito pela paisagem e pela geodiversidade, a qual, no final de contas, é a nossa própria historia e fará parte do nosso futuro.
“A pedra e a Batalha – da matéria à vida” resulta do trabalho de investigadores em Geologia, Arte e História e da colaboração de técnicos do Mosteiro da Batalha e das Grutas da Moeda, com museologia de Ana Mercedes Stoffel e museografia de António Viana.