Revista Rua

2024-07-12T19:05:47+01:00 Cultura, Literatura, Opinião, Radar

Admirável Mundo Verde de Filipa Fonseca Silva – uma viagem a um futuro que poderá ser (tão bem) o nosso

O que aconteceria se um grupo, bem organizado, de ecologistas, derrubasse governos, e iniciassem uma nova ordem “nacional”?
©D.R.
Cláudia Paiva Silva12 Julho, 2024

Admirável Mundo Verde de Filipa Fonseca Silva – uma viagem a um futuro que poderá ser (tão bem) o nosso

O que aconteceria se um grupo, bem organizado, de ecologistas, derrubasse governos, e iniciassem uma nova ordem “nacional”?

Ultrapasso, agora, o limite que separa uma notícia, de um artigo literário, para uma opinião pessoal.

Ler o novo livro de Filipa Fonseca Silva, Admirável Mundo Verde, colocou-me várias questões. E é por isso que passo a escrever uma opinião.

O que aconteceria se um grupo, bem organizado, de ecologistas, derrubasse governos, e iniciassem uma nova ordem “nacional”? No caso, e nem entrando em detalhes mais técnicos – deixarei para mais abaixo essa parte -, presumindo que os seus objetivos principais seriam amplamente implementados, e que o planeta “iria agradecer” todo aquele trabalho.

A questão que Filipa coloca, tal dedo na ferida, é também saber reconhecer se esse movimento ecologista, poderá ser visto como terrorista ou meramente social. E, de que forma um golpe de estado, culminando com uma revolução “verde”, não teria as mesmas características que todas as outras revoltas? Certamente com mortos, prisioneiros, e, com o passar do tempo, limitação das liberdades individuais, intolerância e políticas zero (spoiler alert: limitação do número de filhos – ou zero -, eutanásia para os mais velhos). Afinal quem mais senão a humanidade para consumir mais e mais recursos da terra?

Enquanto geocientista, e continuando a trabalhar no setor energético, Admirável Mundo Verde, é um admirável mundo de saber dar a volta à situação, considerando que as alterações climáticas promovem eventos cada vez mais extremos, e não podemos negar que o impacto de emissões de gases com efeito de estufa não é coisas de lunáticos e, muito menos corresponde a uma qualquer agenda política.

Aliás, misturar Política e Ciência nunca deu bom resultado. Não quero entrar nesse campo.

Mas a verdade é que temos de pensar no impacto social. Tanto se fizermos algo, como é apresentado no livro, ou se não fizemos absolutamente nada. Há poucos dias, fiz parte da mesa redonda que Filipa Fonseca Silva organizou junto de Maria Bravo, outra escritora, e falámos sobre estas questões com um público atento e, sobretudo interessado. Porque há quem fale em negacionismo, há quem se identifique no extremismo das personagens, e há quem entenda que a utilização de recursos minerais e recursos renováveis, é realmente essencial para a sobrevivência da humanidade. Qual o objetivo? Que seja feita de forma equilibrada e responsável – sendo que a base da pirâmide está exatamente em nós, no tal coletivo e indivíduo que, atualmente, não se lembra de consumir menos, de comprar menos, de reaproveitar, de reciclar.

Sou apologista de uma transição energética justa, onde todas as soluções de energia são necessárias e preciosas (bioenergia, biocombustíveis, combustíveis sintéticos, etc., e sua já atual incorporação junto aos combustíveis tradicionais em vários meios de transporte). Acredito (sabemo-lo, aliás) que o consumo de petróleo irá continuar, mas que caberá igualmente aos atores políticos, pensarem na produção dos seus substitutos, que existem, estão provados e só lhes falta financiamento. Dinheiro esse que está a ser aplicado a outros interesses energéticos, como a eletrificação massiva de uma União Europeia que não tem capacidade de infraestrutura (nem ordenados médios), que permitam o abastecimento elétrico, nem a aquisição das viaturas.

Por outro lado, há quem acuse as empresas de greenwashing (porque continuam a sua saga poluente). A questão que, neste caso, eu coloco e que também foi debatida na passada quinta-feira em Lisboa: será mesmo que é greenwashing? Será que não é uma forma de equilibrar a balança? E, não valerá estarem estas empresas a fazer algo, invés de não fazerem absolutamente nada que possa mitigar ainda mais estragos?

Uma vez mais, não podemos olhar apenas para quem está acima de nós. Se estivermos a pensar na tal pirâmide, e verificarmos que o topo é muito pequenino em relação à base que o sustenta, então a solução passa por mudar essa base. Alterar o comportamento individual de cada um, promover um diálogo e partilha de conhecimentos bem fundados, arriscar no debate construtivo entre vários agendes e parceiros, sabendo que a necessidade é de todos, e não pode passar pelos radicalismos.

Contudo, se me perguntarem se sou uma Laura ou uma Billie – as protagonistas femininas de Admirável Mundo Verde, direi, mesmo estando a trabalhar onde estou: se nada foi feito, realmente feito, se não mudarmos o que estamos a fazer, TODOS, então eu serei uma Laura. E infelizmente, todos seremos uma Laura.

Admirável Mundo Verde, tem edição da Suma das Letras (grupo Penguin Random House Portugal).

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