
São jovens, arrojadas e com espírito livre. Ana Anahory, arquiteta, e Felipa Almeida, formada em História da Arte e Curadoria, são os rostos do atelier AnahoryAlmeida, sediado em Lisboa, mas com projetos já por vários pontos do país: Cantinho do Avillez, Mini Bar Porto, Quinta do Quetzal, Marisqueira Azul, Selllva, Wood in Lisbon ou São Lourenço do Barrocal são apenas alguns dos projetos de Arquitetura e Design de Interiores desenvolvidos pela dupla.

Em primeiro lugar, gostaríamos de conhecer melhor a Ana Anahory e a Felipa Almeida e perceber como o destino as juntou neste projeto de arquitetura, design de interiores e mobiliário. Como é que tudo começou?
Conhecemo-nos através dos nossos maridos e, por isso, convivíamos bastante. Entretanto, surgiu a oportunidade de colaborarmos num projeto: pensar nos interiores do Cantinho do Avillez, um restaurante do chef José Avillez. Foi uma experiência que correu muito bem! Tivemos a sorte de o chef querer continuar a abrir restaurantes e a desafiar-nos para os fazer. A certa altura percebemos que queríamos continuar a trabalhar juntas e resolvemos abrir um atelier. Isto foi em 2011.
No vosso portefólio já podemos visualizar vários projetos de renome, principalmente no universo da hotelaria e da restauração. Antes de nos focarmos na lista de projetos em si, gostaríamos de perceber o que une a vossa linha de pensamento. O que vos inspira? E de que forma materializam essa inspiração nos projetos?
Temos em comum uma vontade de trabalhar com materiais naturais e colaborar com artistas e artesãos. Gostamos as duas de estudar o passado sem transmitir nostalgia para os projetos que desenvolvemos. Estamos sempre atentas e passamos a vida a fotografar balcões, pavimentos, puxadores, janelas, candeeiros, entradas de prédios ou detalhes de fachadas. Temos um amplo arquivo de imagens.
Tentam que exista uma ligação aos artistas e artesãos portugueses, correto? É importante para vocês carimbar portugalidade nos projetos?
Não queremos carimbar portugalidade porque não nos queremos limitar, mas queremos sim aproveitar recursos locais e um saber-fazer português com uma tradição rica. Queremos pensar os projetos inseridos no local onde vão existir. Se fizéssemos projetos internacionais não iríamos tentar dar-lhes portugalidade. Tentaríamos pesquisar materiais e artesanatos locais. Gostamos de raízes e costumes, mas não têm necessariamente de ser portugueses.
Espaços acolhedores e intemporais, sempre com um toque de modernidade. É esta a premissa de todos os vossos projetos?
Temos sempre em mente o facto de os projetos serem habitados quando acabados e a nossa preocupação é sempre o conforto acima de tudo.
Queremos conseguir uma luz harmoniosa, uns tons quentes e usar materiais agradáveis ao toque.
Vamos focar-nos então em projetos: que trabalhos mais vos orgulham neste já vasto currículo marcado por restaurantes com selo de qualidade Avillez, por hotéis como a Quinta dos Murças, por espaços como o Wood, etc.? Há projetos especiais que queiram destacar?
Cada projeto traz a sua pesquisa e o seu universo muito específico e é na diversificação que nos divertimos. A Quinta dos Murças permitiu uma viagem no Douro, na sua história, nas suas paisagens e, claro, nos seus vinhos. Um projeto como o Wood in Lisbon fez-nos descobrir o universo do conforto no trabalho em comunidade que também foi desafiador e muito interessante. Gostamos sempre também de dar destaque ao projeto São Lourenço do Barrocal, que foi o primeiro hotel que fizemos. É um projeto de grande escala com uma história familiar muito interessante e foi, para nós, uma ótima oportunidade para explorar a cultura e o artesanato alentejano.
Falando dos trabalhos no grupo Avillez, queremos trazer à conversa o incrível Bairro do Avillez, que a Revista RUA teve oportunidade de visitar recentemente. Foi um projeto marcante? É desafiante trabalhar com os projetos Avillez?
O Bairro do Avillez foi um projeto marcante pela sua escala e pela beleza do espaço já antes da nossa intervenção. Foi, claro, depois, uma aventura materializar os “sonhos” do chef José Avillez.

O restaurante Selllva é um dos projetos mais recentes, localizado mesmo ao lado do Wood in Lisbon. Estes dois projetos parecem ligar-se apesar de funcionarem de maneira independente. É como se a identidade AnahoryAlmeida já fosse contagiante e notória?
Para nós, era impossível distanciarmo-nos completamente dos dois espaços que iriam coabitar no mesmo edifício. Tínhamos a estética do prédio e a sua época de construção muito presentes quando iniciámos o projeto. Era para nós importante trazer alguns materiais e padrões para os dois universos para criar uma harmonia para as pessoas que o habitam todos os dias.
Como descrevem então, de maneira geral, o vosso trabalho, a vossa identidade enquanto designers de interiores e arquitetas?
Somos um atelier que gosta de trabalhar os detalhes, criar universos intemporais. Tentamos sempre personalizar todos os pormenores. Tudo importa. Tudo ajudar a criar coesão e harmonia!
Olhando para este percurso, consideram-se criadoras de tendências?
Não temos essa perceção.
Já podem desvendar algumas novidades para os próximos tempos? Há projetos na manga?
Estamos a trabalhar com uma empresa de vinhos numa campanha ligada ao artesanato para a qual estamos a fazer, pela primeira vez, consultoria de artesanato. Estamos, felizmente, envolvidas em projetos bastante diferentes uns dos outros: um monte alentejano, vários restaurantes e uma capela!