Revista Rua

2022-11-03T10:43:10+00:00 Opinião

Até que ponto se confunde a imbecilidade com o canto do cisne?

Crónica
João Rebelo Martins
3 Novembro, 2022
Até que ponto se confunde a imbecilidade com o canto do cisne?

Nos últimos meses temos vindo a assistir a uma série de protestos a favor da alteração do modo de vida das populações, em prol da sustentabilidade do planeta que são, no mínimo, caricatos: colaram-se na moldura do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, atiraram sopa de tomate contra o quadro “Girassóis” de Vincent Van Gogh, puré aos “Palheiros” de Monet e, agora, mancharam o quadro “Rapariga com Brinco de Pérola”, de Johannes Vermeer.

Longe vão os tempos onde eu e todos os miúdos queríamos ser da Green Peace para podermos andar a alta velocidade em barcos de borracha a atravessarem-se à frente de petroleiros, transportadores de lixo, arrastões de pesca furtiva.

Mas o movimento que assistimos nas organizações terroristas – em que a mais recente é sempre mais destrutiva e bélica que a anterior, para mostrar mais serviço à causa e, logo, mais degradação ao inimigo -, também se estende às organizações que visam melhorar a sustentabilidade do planeta. Daí a Just Stop Oil,  Letzte Generation  e Scientist Rebellion terem acções que, penso, nunca vieram à cabeça da Green Peace, da mesma forma que a Frente de Libertação da Palestina parecia o jardim infantil de Abu Musab al-Zarqawi e do seu ISIS.

Greta Thunberg, a miúda que colocou os jovens, de novo, a falarem de política, activista, aprovaria estas acções?! Leonardo DiCaprio? Sebastian Vettel?

Vir alguém dizer, como é o caso de Filipe Ferreira, no Público, “ Se as acções dos activistas não fossem ousadas, mas “respeitáveis” como alguns pedem, ninguém prestaria atenção e hoje estaríamos numa situação bem pior”, só me apraz perguntar, como já se diz por aí nas redes sociais e traduzindo para português, se a moda pega vamos ter tripas em Nadir Afonso, caldeirada de peixe em Columbano Bordallo Pinheiro e fish and chips feitos com sardinha da nossa costa em Paula Rego?

Fiquei chocado, e o resto do mundo também, quando destruíram Aleppo. Foram Sírios ou Curdos? Quem provocou quem? Quem acendeu o fósforo? Não sei. Mas não foram só vidas que se perderam; foi a humanidade pela retrocesso civilizacional de se destruir arquitectura e obras classificadas pela Unesco.

Da mesma forma fiquei pasmado quando me apercebi desta nova forma de protesto de supostos activistas ambientais. Porque se destrói muito mais do que o que se ganha a curto, médio e longo prazo.  Porque o que se fala sobre as acções de protesto são a forma do protesto e não o porquê de protestar. Por isso, Filipe Ferreira, a sua teoria não poderia estar mais errada.

A ONU, através da Agenda 2030, é das organizações que mais faz pela sustentabilidade no planeta. A mesma ONU, através da Unesco, é das organizações que mais protege o património material e imaterial da humanidade; onde se inclui as várias formas de arte, cultura, arquitectura, numa simbiose perfeita com a natureza. O Homem não é nada se não tiver a capacidade de criar o belo.

Como li há tempos, “a arte existe para que a realidade não nos destrua” e isso remete-me para a Grande Guerra Mundial, de 1914 a 1945. Nessa altura, os principais exércitos tinham brigadas especialistas em identificar e preservar obras de arte. Porquê? Porque não valeria a pena fazer uma guerra se não fosse manter a civilização. Quereria Hitler ou Estaline conquistar o mundo sem ter a capacidade de mostrar o sorriso de “Mona Lisa”? Ou “As Meninas”? “O Retorno do Filho Pródigo”?

Tenho pena de ter de recordar o período mais negro da história europeia, onde se defrontaram os ditadores fascistas e comunista, além das democracias ocidentais, para ter que explicar a imbecilidade deste tipo de acções.

Termino com a história de mais um caricato protesto e a forma inteligente e sanitária como foi resolvido: um grupo de 15 ambientalistas decidiu colar-se ao chão do Museu da Porsche. Funcionários do museu viram o protesto e respeitaram-no, não incomodando os senhores. Na hora de fecho do museu, como bons alemães, apagaram as luzes, desligaram o ar-condicionado e fecharam as portas. E depois… bem, depois convido-vos a rirem-se com as explicações dos activistas!

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Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia.

Sobre o autor:
Consultor de marketing e comunicação, piloto de automóveis, aventureiro, rendido à vida. Pode encontrar-me no mundo, ou no rebelomartinsaventura.blogspot.com ou ainda em instagram.com/rebelomartins. Seja bem-vindo!

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