Revista Rua

2019-07-16T14:31:46+01:00 Opinião

Braga fora de portas

Sociedade
Nuno Roby Amorim
16 Julho, 2019
Braga fora de portas
©Ricardo Moura/Unsplash

Numa altura em que a RUA alarga os seus horizontes geográficos deixando de ser apenas uma voz da região do Minho passando “a voar, sem fronteiras regionais” importa voltar à casa de partida reequacionando o posicionamento de Braga e a sua relevância num contexto global.

É hoje um dado adquirido que a capital do Minho é a terceira cidade do país. Acresce-se a isto, segundo o Eurobarómetro, que Braga é a cidade mais feliz (melhor qualidade de vida) de Portugal e a terceira da Europa apenas atrás de Oslo e Zurique. Já o relatório anual da Bloom Consulting, uma consultora especializada em city branding, coloca Braga no quarto lugar atrás de Lisboa, Porto e Cascais afirmando-se mais uma vez como “um dos municípios mais procurados online por turistas, investidores e cidadãos em geral”. Por último, por ventura o dado mais importante de todos tendo em conta que Portugal é o segundo país da União Europeia com a população mais envelhecida, Braga é a capital de distrito mais jovem do país. Em 180 mil habitantes, o concelho tem 85 mil jovens com residência fixa no município.

Estes dados positivos são o resultado do trabalho do seu tecido industrial, comercial, universitário e político. Não há propriamente um responsável directo por estes números que são fruto de uma sociedade civil vibrante, activa e muito trabalhadora.

Portugal é um país muito pequeno onde cerca de 60% da população reside na faixa costeira e cerca de 45% do total está concentrada nas áreas metropolitanas de Lisboa (2,8 milhões) e Porto (1,8 milhões). Porventura, o dado mais significativo deste desenvolvimento assimétrico é de que 83% da riqueza do país é produzida na franja litoral do continente.

“Braga não está em competição apenas com os 307 concelhos do país mas em concorrência directa com milhares de cidades de toda a União Europeia. Dito isto, por muito que nos custe, é uma verdade insofismável que o futuro de Braga já não é decidido apenas em Braga mas nos grandes “centros de decisão”.”

Nos primeiros meses do ano foi anunciado que a cidade de Braga quer ser Capital Europeia da Cultura em 2027, estando a trabalhar a candidatura com “ambição e vontade de vencer”. Este episódio é ilustrativo de uma certa “nova ordem mundial”. Braga não está em competição apenas com os 307 concelhos do país mas em concorrência directa com milhares de cidades de toda a União Europeia. Dito isto, por muito que nos custe, é uma verdade insofismável que o futuro de Braga já não é decidido apenas em Braga mas nos grandes “centros de decisão”.

Ora aqui chegados importa referir que a maioria das cidades e dos países da União Europeia incorporam o lóbi como uma “ferramenta” fundamental para os ajudar a atingir os seus objectivos. Os lobistas passaram a desenvolver importantes tarefas, como a identificação de potenciais parceiros de negócios, prospecção de mercados, detecção de eventuais impedimentos às exportações, captação de investimento estrangeiro, apoio a acções de penetração local dos operadores regionais, divulgação dos produtos e serviços, acompanhamento legislativo, entre muitos outros temas.

Temos que salientar contudo que para a concretização deste projecto é necessária a convergência de todas as forças vivas da região: da indústria ao comércio, da universidade à arquidiocese e na política da esquerda à direita. Braga necessita portanto de criar uma cooperação entre todas as suas instituições com vista à maximização e a uma maior eficiência dos recursos investidos na promoção externa e isso só se consegue presentemente junto dos grandes centros de poder fora dos limites da própria cidade. Para um descendente de bracarenses nascido em Lisboa, muitas vezes as disputas e divergências políticas locais são uma verdadeira aberração sem sentido e sem o mínimo de estratégia global. No actual contexto político e social parece-me que só o município tem capacidade para aglutinar essa vontade regional e dar o primeiro passo na criação deste objectivo.

A história ensina-nos quase tudo, e à imagem do que a cidade já fez no passado junto ao papado em Roma, não seria má ideia que os decisores de Braga pensassem em recrutar lobistas profissionais, fundamentalmente em Lisboa e Bruxelas, com vista à abertura de um caminho que crie igualdade de oportunidades.

Nota: Este artigo não foi escrito segundo o novo acordo ortográfico.

 

Sobre o autor
Consultor de comunicação

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