Revista Rua

2021-05-18T15:06:42+01:00 Património

Casa e Parque de São Roque: Contemplar a arte entre camélias e vistas sobre o Douro

Não obstante a beleza arquitetónica da Casa de Roque, a envolvente exterior e de jardins, num total de quatro hectares, confere um toque especial ao local.
Filipa Santos Sousa18 Maio, 2021

Casa e Parque de São Roque: Contemplar a arte entre camélias e vistas sobre o Douro

Não obstante a beleza arquitetónica da Casa de Roque, a envolvente exterior e de jardins, num total de quatro hectares, confere um toque especial ao local.

A cidade do Porto dispensa apresentações, seja a nível nacional ou internacional. Há muito que as imagens da Ponte Luíz I, que liga a Invicta a Vila Nova de Gaia, correm mundo; sobretudo desde que o Porto se tornou numa referência do turismo. Entre os locais de visita obrigatória constam a Torre dos Clérigos, a Casa da Música, as Caves do Vinho do Porto, os Jardins do Palácio de Cristal ou a Fundação de Serralves. No entanto, desde 2019, um novo espaço de arte contemporânea abriu as portas e promete fazer as delícias dos seus visitantes.

A Casa de São Roque, como ficou conhecido o Palacete Ramos Pinto, situada perto da zona de Campanhã, sempre impressionou pelo seu amarelo-torrado, mas também pelo seu estado de ruína. Durante anos, a antiga residência de António Ramos Pinto, abastado produtor e exportador de vinhos do Porto, e de Maria Virgínia de Castro, presença assídua dos meios sociais e culturais do Porto, permaneceu ao abandono. Do passado de opulência do casal burguês, que aí se fixou no final do séc. XIX, restavam apenas memórias escondidas entre as sombras e as camadas de poeira.

Na posse da Câmara do Porto, desde 1979, o Palacete Ramos Pinto foi recentemente alvo de minuciosas obras de reabilitação, sob a supervisão do arquiteto João Mendes Ribeiro com o objetivo de dar uma nova vida a este espaço; hoje transformado numa casa de artes entregue à Associação Viveridade. Mas, por esta altura, perguntar-se-á o leitor: Qual é afinal o interesse deste edifício? Bem, falar na Casa de São Roque é aludir a um sítio com história, mas também a um local que pode e deve ser visitado por miúdos e graúdos, solitários e apaixonados, flâneurs e artistas.

Primeira requalificação do bem-afamado Marques da Silva

Antes de se ouvir falar em nomes como Siza Vieira e Souto Moura, um outro arquiteto marcou para sempre a face da cidade do Porto. Nascido em 1869, José Marques da Silva é o autor de alguns dos mais emblemáticos espaços da Invicta, nomeadamente: a Estação de São Bento (1896-1916) – considerada uma das mais belas do mundo; o Teatro Nacional de São João (1909-1920); a Casa e Jardins de Serralves (1925-1943); apenas para citar alguns exemplos. Apesar disso, o percurso de Marques da Silva também se confunde com o da Casa de São Roque, afinal esta terá sido uma das primeiras intervenções do arquiteto no contexto de uma requalificação de obra já existente.

Entre 1900 e 1911, Marques da Silva teve a missão de transformar a Casa de São Roque, cujas origens remontam a 1759 e estão ligadas a uma matriz rural, num verdadeiro palacete romântico. A mansão de três andares foi remodelada por Marques da Silva, ostentando marcas do historicismo francês e da Art Nouveau belga. Por sua vez, as áreas exteriores à residência da famíla Ramos Pinto foram desenhadas por Jacinto de Matos e ainda hoje impressionam pela beleza das suas camélias; e é aqui que o leitor deve focar agora a sua atenção – no Parque de São Roque.

Não obstante a beleza arquitetónica da Casa de Roque, a envolvente exterior e de jardins, num total de quatro hectares, confere um toque especial ao local. No caso de não querer entrar no edifício para apreciar exposições de arte contemporânea, o Parque de São Roque é sempre uma boa opção a ter em conta e onde podem ser contemplados: mirante, grutas, caramanchão; e os seus ex libris, ou seja, cerca de 200 japoneiras (cameleiras) e um Labirinto de Buxus sempervirens.

Atualmente, a cidade do Porto tem na Casa de São Roque mais um motivo de orgulho; e os seus visitantes a certeza da tranquilidade e beleza de um espaço, que combina história e arquitetura, com uma vista poética sobre o rio Douro.

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