Revista Rua

2022-03-29T10:57:49+01:00 Opinião

#chrisrock

Atualidade
João Rebelo Martins
29 Março, 2022
#chrisrock

Acabou-se a guerra, não há crise energética, o governo apresentado à comunicação social é tão perigosamente hospitaleiro como o anterior e, por isso, ninguém fala. Parou tudo naquele mundo especial chamado Redes Sociais. O assunto do momento é a estalada de Will Smith durante a cerimónia de entrega dos Óscares.

Chris Rock fez uma piada.

Will Smith ouviu uma piada.

Chris Rock levou um estalo.

Chris Rock continuou o seu trabalho, em palco, de forma exemplar.

Will Smith continuou confortavelmente sentado na sua cadeira.

Will Smith recebeu um Óscar.

Will Smith mostrou arrependimento.

Will Smith festejou e vangloriou-se noite dentro.

Que exemplo é este que um dos maiores criadores de conteúdos do planeta transmite à sociedade? Agride-se e sai-se como herói?!

O humor não tem limites. A violência tem.

E as pessoas, nas redes sociais, dizem o contrário: que Smith esteve bem por se ter portado como um primata.

Já imaginaram o que seria se na Assembleia da República os deputados desatassem a andar ao estalo, por não gostarem das palavras críticas dos seus colegas?

André Ventura, esse exemplo de civilizacionismo, fez um post no Facebook onde enaltecia a coragem de Smith e que já tinha tido essa vontade de esbofetear Ferro Rodrigues. A ideia é tão peregrina que o post foi retirado.  Afinal a coragem faltou-lhe e não foi só no estalo.

Será que Henrique Mendes tentou apertar os colarinhos a Herman José, por a Rute Remédios ser tão idêntica a Glória de Matos?

Francisco Menezes, há anos numas comemorações do 25 de Abril, com o MFA ainda vivo como seu público, destilou piadas sobre o 25 de Abril. Ninguém saltou da cadeira para lhe dar um estalo, muito menos atirar uma granada ou uma bazuca.

Mário Machado e mais 35 skin heads não gostaram de um cartaz que os Gato Fedorento colocaram há uns anos no Marquês de Pombal, ao lado do cartaz do PNR. Ameaçaram Ricardo Araújo Pereira e a integridade física da sua família. Felizmente foi tudo parar ao tribunal de Monsanto.

O humor não tem limites.

Todos precisamos de humor, todos necessitamos de rir de nós próprios, especialmente em alturas de regressão e recalcamento, como estudou Freud nos Mecanismos de Defesa. Ter sentido de humor é ter mundo, é saber que uma gargalhada alivia tensões.

As palavras combatem-se com palavras. A piada era má? Will Smith, na altura de receber a estatueta, tinha a hipótese de a contrariar. Se não ganhasse? Diria a sua versão no final. Não há nada que justifique a violência. Que exemplo este?!

Hollywood deveria ter retirado o Óscar a Smith. A polícia deveria tê-lo levado para interrogatório.

E por falar em Óscares, caso o caso não fosse a estalada, certamente seria a qualidade do filme que recebeu a estatueta para melhor do ano. CODA? A sério?!

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Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia.

Sobre o autor:
Consultor de marketing e comunicação, piloto de automóveis, aventureiro, rendido à vida. Pode encontrar-me no mundo, ou no rebelomartinsaventura.blogspot.com ou ainda em instagram.com/rebelomartins. Seja bem-vindo!

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