A intenção do urban sketching é perpetuar o ambiente de um espaço, dos edifícios às pessoas, em registo urbano, mas não só. Feito in situ, o urban sketching é a maior paixão de Hugo Costa, um arquiteto e professor de desenho que deixou o Porto para tentar a sua sorte em Espanha. Pelo caminho, teve a certeza que o seu maior desejo é desenhar o mundo, eternizando-o no seu caderno.
Hugo Costa é poliglota, mas a sua linguagem universal é o desenho. Formado em arquitetura e professor de desenho numa universidade espanhola, em Valência (cidade que o acolheu quando a crise portuguesa o fez tentar a sua sorte no país vizinho), Hugo pertence à comunidade internacional de urban sketchers e um dos seus sonhos é viajar pelo mundo, de bicicleta, para desenhar as atmosferas que mais o cativam.
Mas vamos ao início: desde criança que Hugo gostava de desenhar. Em 1997, durante o seu programa Erasmus em Paris, viajou até Sarajevo, numa altura em que a destruição da guerra ainda marcava a cidade. Hugo queria captar essas imagens com a sua câmara fotográfica Pentax, mas logo no primeiro dia uma queda deixou-a inutilizável. Então, Hugo recorreu ao seu caderno, desenhando o que via para não deixar de registar aquela semana tão impactante. “Perdi-me bastantes vezes dos meus colegas nessa viagem porque ficava a desenhar o meu mundo”, recorda. A partir daí, as viagens de Hugo seriam sempre eternizadas através dos seus desenhos. A azáfama de Nova Iorque e o movimento das pessoas, o carácter das cidades italianas, principalmente a luz de Roma, as formas do Porto e das suas ruas inclinadas… até os cheiros dos lugares. “Comecei uma espécie de diário gráfico das cidades. Interessa-me desenhar toda a atmosfera que reside num espaço e não apenas os edifícios em si. A verdade é que quanto mais olhamos para o mundo, mais informação vemos para desenhar. Tento representar o carácter das cidades, os movimentos, o ruído, os cheiros… investigo a melhor forma de desenhar aquilo que, à partida, não é desenhável”, explica-nos Hugo, recordando um restaurante italiano cujo aroma a café foi perpetuado pelo recurso às borras de café no desenho. Ainda hoje, quando Hugo abre o seu caderno naquela página, recorda o aroma a café daquele espaço.
No seu blog a fresh drawing everyday e agora no Instagram em @yolahugo vai colocando os seus desenhos, tentando cumprir a promessa feita em outubro de 2010 aos seus alunos: fazer um desenho por dia. “No início do blog, eu não era muito exigente. Fazia desenhos de dez minutos a meia hora. Por exemplo, nos primeiros tempos, fui a Istambul e fiz 50 desenhos em três dias. Em Florença, fiz 70 em três dias. Fazia desenhos muito rápidos e então era fácil desenhar todos os dias. Depois, saltei para o Instagram e cada vez fui sendo mais exigente nos desenhos, porque já não perdia tanto tempo a digitalizar o que fazia. Bastava tirar uma fotografia e postar. Assim, comecei a fazer desenhos mais completos, de duas a seis horas, por exemplo. Já é mais difícil desenhar todos os dias, mas vou tentando”, afirma.
Hugo é claramente o tipo de pessoa que, nas horas vagas, em vez de fazer scroll infinito no telemóvel, recorre à caneta e ao papel para desenhar o que vê no mundo: seja num restaurante enquanto aguarda o seu pedido, seja na piscina enquanto aguarda pelo filho, seja no mecânico enquanto aguarda pela revisão do automóvel.
Enquanto a vida não o deixa aventurar-se pelo mundo num World Sketching Tour, de bicicleta por exemplo, tal como o português Luís Simões, Hugo mantém-se ocupado nos seus projetos de investigação e docência, nas suas exposições e simpósios, na publicação de um livro e na organização das suas próximas viagens: Japão e Bangladesh.