
A Cervezas Alhambra, uma marca espanhola de produção de cerveja (com distribuição também em Portugal), lançou um desafio a três artistas portugueses, propondo a criação de uma obra contemporânea, artesanal e colaborativa – inspirada na edição Alhambra Reserva 1925. O objetivo passava por encontrar o primeiro artista nacional para integrar a plataforma de criação contemporânea, Crear/sin/prisa, da qual já fazem parte mais de 20 obras internacionais. Depois de uma seleção detalhada, a obra do artista Igor Jesus foi a escolhida.
A curadora de arte portuguesa, Isabel Carlos, foi convidada pela marca espanhola, mais concretamente por Alicia Ventura (comissária espanhola, responsável pela direção artística do projeto), com o intuito de, não só integrar esta iniciativa, como selecionar os artistas que fizeram parte do concurso. Depois de uma ponderada decisão, foram eleitos três finalistas, Igor Jesus, Isabel Madureira Andrade e a dupla Musa paradisíaca, que terão sido convidados para uma viagem inspiracional até Granada, Espanha, com o intuito de possibilitar um contacto mais próximo com as origens da marca e a sua filosofia: Parar mais. Sentir mais. O mote que define o ADN da Cervezas Alhambra convida-nos a abrandar o ritmo, para que possamos sentir tudo aquilo que nos rodeia, com todas as nuances dos cinco sentidos.

Uma das condições propostas aos artistas pedia que envolvessem artesãos portugueses na elaboração das suas obras, privilegiando um compromisso com o artesanato nacional. Esta não é a primeira vez que a marca de cervejas aposta na criação de projetos intimamente ligados com a colaboração de artesãos locais, sendo que a missão estende-se agora até Portugal. Criada em 2016, a plataforma Crear/sin/prisa foi pensada para divulgar e valorizar o trabalho desenvolvido por artesãos contemporâneos, reunindo atualmente mais de 20 obras, maioritariamente de artistas espanhóis, como Guillermo Mora, Jacobo Castellano ou Teresa Solar.
Dos três projetos artísticos apresentados, o painel de jurados elegeu a obra de Igor Jesus, que se prepara agora para avançar com a criação da mesma, para ser posteriormente inaugurada na ARCOLisboa 2020 – a maior feira internacional de arte contemporânea – que acontecerá em maio. Acerca da nomeação da obra Diapasão, o projeto vencedor do artista Igor Jesus, Isabel Carlos partilha que: “O Igor surpreendeu-nos porque interpretou este desafio através do som, que não é, dos cinco sentidos, aquele que associamos de forma mais direta a um produto como a cerveja. A peça que nos propôs terá um enorme impacto, pois trata-se de uma escultura que vive simultaneamente do som e da imagem em movimento, expressando ainda um balanço entre as mais recentes tecnologias e as técnicas artesanais”.
Com o intuito de conhecermos a inspiração por detrás da criação desta obra, falámos com Igor Jesus, um artista natural de Lisboa, conhecido pela exploração de universos distintos, como a pintura, a escultura, o vídeo, a fotografia ou a instalação, numa mesma obra.
O Igor foi recentemente convidado para apresentar uma peça que fosse, ao mesmo tempo, contemporânea, artesanal e colaborativa. De que forma recebeu esta proposta? Considera que esta iniciativa é uma mais valia para impulsionar e apoiar a arte contemporânea portuguesa?
Recebi com imenso entusiasmo, pois no contexto português não há muitos apoios. Tudo o que puder ajudar a dar alguma visibilidade aos artistas portugueses e condições de produção é fantástico.
Depois da eleição por parte de um importante elenco de jurados, o projeto do Igor foi o escolhido. Estava à espera deste reconhecimento? Que importância tem para si o facto de ser o primeiro artista português a integrar esta plataforma?
Ainda não tenho consciência do que é ser o primeiro artista português a integrar a plataforma e no que é que isso se vai traduzir. Em todo o caso, é sempre bom ser-se distinguido e escolhido perante um grupo de artistas com tanta qualidade.
Qual foi a inspiração para criar esta obra? De que forma procurou ter uma interpretação diferenciada e pouco direta ou convencional?
O que me chamou a atenção foram todos os sons produzidos no processo de fermentação da cerveja que já conhecia, mas que na visita à fábrica em Granada pude reforçar. É a ideia de um corpo que respira. Tive vontade de fazer um vídeo que nasça de um processo biológico autónomo.
Esta iniciativa partia da ideia de valores que giram em torno da arte contemporânea, do artesanato português e também da sustentabilidade. Que elementos procurou explorar para corresponder à ideia central?
Vou trabalhar com um sonoplasta, que defende alguns conceitos analógicos. Algo que no som está a perder-se por completo em favor só do digital. E achei muito interessante que em Espanha tenham já a designação de “tecnoartesanato” para estas práticas analógicas.

A ideia por detrás da criação da obra Diapasão pretendia que a mesma se expressasse, simultaneamente, através do som e da imagem. Em que ponto do processo de criação da obra nos encontramos?
Neste momento ainda não está nada produzido. Estou com imenso trabalho, já tenho alguma investigação feita, mas a produção da peça só deverá começar no próximo mês.
A obra final será apresentada na ARCOLisboa, que é atualmente a maior feira internacional de arte contemporânea. Que importância terá para si esta presença no evento?
A ARCOLisboa é de facto a maior feira internacional de arte em Portugal, sendo também um dos eventos que atrai mais público no país. Por isso, é sempre bom para o meu trabalho ter visibilidade nestes contextos.