Comédia de costumes, onde as personagens e tramas são inspiradas pela vida da Corte, e pelos destinos das viagens quinhentistas, Comédia Aulegrafia não foge ao padrão, pertencendo à obra do autor português Jorge Ferreira de Vasconcelos, cujo registo é agora resgatado pelo Teatro Maizum.
Relatando uma história de amor e ciúme, bem como as intrigas da Corte no Paço, contextualizada numa Lisboa (e país) durante o reinado de D. João III e D. Catarina de Áustria, esta peça fala igualmente, como não poderia deixar de ser, nos principais vícios de ascensão política e status social, frente ao Rio de onde se partia para desbravar novos (velhos) mundos. Entre vários personagens tais como, moços fidalgos, damas da Corte, donzelas, escudeiros pobres, criados, mulatos, cortesãos, e também castelhanos aventureiros ou criados fanfarrões, apresentam-se ao serviço a cobiça e a corrupção numa alegre festa. Casamentos arranjados com desamor e, no centro de tudo, com a janela do Paço, Aulegrafia, a intriguista-mor, uma alcoviteira que tem por objetivo mandar e desmandar nos corações, mesmo que possa incorrer em tragédias bem ao estilo ainda medieval. No meio da história é Filomena quem acaba por ser o peão de uma história única de Poder, de negócios e é, no final do dia, apenas um troféu disputado por dois partidos que pretendem apenas uma coisa. Contudo, é Aulegrafia quem trabalha os fantoches da trama pela sua própria sede de conquista, importância e veneração, numa Lisboa onde a pobreza, as varinas, marinheiros, gente de má fama e o Fado eram uma constante de mãos dadas.
De 7 a 24 de julho, no Convento da Graça, em Lisboa.