
Foram encontradas, no arquivo pessoal do realizador Manoel de Oliveira, – integralmente depositado em Serralves – mais de cem fotografias, na sua maioria inéditas. Captadas entre finais de 1930 e meados dos anos 1950, esta descoberta revela uma faceta desconhecida do realizador e abre novas perspetivas sobre a evolução da obra do realizador.
A passagem de Manoel de Oliveira pela imagem estática é determinante do seu percurso como cineasta. Em diálogo com o pictorialismo, o construtivismo e com as experiências da Bauhaus, as suas fotografias estão a meio caminho entre a exploração dos valores clássicos da composição e o espírito modernista que animou toda a primeira fase da sua produção cinematográfica.

Investida, quase sempre, de propósitos artísticos, a fotografia é para o realizador um instrumento de pesquisa formal e de experimentação, uma outra modalidade para interrogar, muitas vezes em relação direta com os filmes, a construção de uma linguagem visual própria.
As imagens que agora se revelam acrescentam, certamente, um novo capítulo à história da fotografia portuguesa dos anos 1940/50. Constituem, também, um precioso instrumento para enquadrar o modo como Manoel de Oliveira passa a assegurar, durante um período de dez anos, a direção de fotografia dos seus próprios filmes, bem como para contextualizar, numa perspetiva mais ampla, o rigor de composição que, de uma maneira geral, caraterizam todos os seus filmes.
Olhando para estas imagens, não interessará muito saber onde começa o fotógrafo e acaba o cineasta, nem definir, com precisão, até que ponto o primeiro poderá ter tomado, por vezes, o lugar do segundo. Importará, sim, questionar o modo como esta convivência entre dois modos de pensar, de olhar e de registar se corporiza na obra de Manoel de Oliveira.