Revista Rua

2023-07-19T18:14:36+01:00 Cultura, Em Destaque, Teatro

Mickaël de Oliveira: “Gostava de contribuir para a produção teatral de Guimarães”

Mickaël de Oliveira, atual diretor artístico do Teatro Oficina, está em entrevista na RUA, onde nos fala das vontades que solidificam o ambicioso projeto da estrutura cultural de teatro d'A Oficina, em Guimarães.
Mickaël de Oliveira @Nuno Sampaio
Redação19 Julho, 2023
Mickaël de Oliveira: “Gostava de contribuir para a produção teatral de Guimarães”
Mickaël de Oliveira, atual diretor artístico do Teatro Oficina, está em entrevista na RUA, onde nos fala das vontades que solidificam o ambicioso projeto da estrutura cultural de teatro d'A Oficina, em Guimarães.

Encenador e dramaturgo, Mickaël de Oliveira chega a Guimarães para assumir a direção artística do Teatro Oficina no biénio 2023-2024, depois de um trabalho meritório da atriz e (também) encenadora Sara Barros Leitão que se estreou no leme deste projeto dedicado à produção teatral, não apenas local, mas nacional.

O contínuo apoio à formação e criação de obras teatrais, bem como o acompanhamento dos artistas e criadores solidifica a ambição de Mickaël: aproximar públicos e apoiar a profissionalização e o acesso à criação. Das OTO – Oficinas do Teatro Oficina, que acolhem diferentes públicos (crianças, jovens e adultos), aos Encontros da Dramaturgia ou às Bolsas de Criação, o Espaço Oficina é uma casa que acolhe tudo e todos que nela desejam habitar.

O Espaço Oficina é uma segunda morada durante dois anos. Como é que tens vivido esta aventura de ter a chave de um espaço livre, criativo e em permanente evolução? Já te sentes em casa?

É mesmo um privilégio! É bom porque a chave deste espaço serve-me a mim e a muitos artistas e isso deixa-me muito feliz.

Depois de Sara Barros Leitão, que desenhou um projeto de sucesso para este espaço, o compromisso é ainda maior? O que mudou e o que se manteve?

O meu projeto existe graças ao da Sara. É um processo de acumulação que se torna bom quando a acumulação também é boa. A Sara fez um trabalho excelente e não alterei grande coisa, porque está muito bem organizado, acolhedor…está uma casa! E isso deve-se a ela. O Teatro Oficina tem como missão trabalhar a proximidade com os públicos, com os estudantes e com o teatro amador. Continuamos com as leituras em comunidade, sempre às terças, pelo menos uma vez por mês, sendo um momento em que acolhemos as pessoas para ler textos de teatro ou ensaísticos e promover um debate, acima de tudo. Incentivar as pessoas a falar sobre a leitura é essencial. Temos a aproximação que nos interessa ao teatro, ao pensamento e à filosofia.

O meu projeto é mais voltado para a produção artística e acompanhamento dos artistas e, por isso, reforçamos a formação, como acontece com os Encontros da Dramaturgia. Acho importante que a pessoa convidada para dirigir o espaço possa também apresentar um trabalho e, como estou aqui enquanto artista, vou ainda focar-me na produção própria, porque quero criar e a Companhia precisa desse lado de produção. É uma casa de produção

Fala-nos um pouco do teu percurso que te traz até Guimarães com uma carreira artística tão sólida?

Nasci em França, onde estudei até aos 14, e vim fazer o secundário em Aveiro e depois Viseu, onde terminei. Licencio-me na Faculdade de Letras de Coimbra, sigo para a Faculdade de Letras de Lisboa para fazer um Doutoramento em Estudos Teatrais e é nessa altura (2009) que crio a minha companhia, Colectivo 84, com o John Romão. Sou depois chamado para trabalhar na direção artística do Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, durante quatro anos. Em 2018, mudei-me para o Porto e lá que desenvolvo o meu trabalho como dramaturgo e encenador no Teatro Nacional São João.

No entanto, já te cruzaste em vários momentos com A Oficina. Conheceres a cooperativa cultural traz-te mais confiança, mas também uma maior responsabilidade?

Não estava à espera de receber o convite, na verdade. Tenho uma atividade artística já muito intensa, mas reagi muito bem, porque é um espaço no qual eu gosto muito de trabalhar, enquanto artista e encenador. Já tive vários pontos de contacto com A Oficina – nomeadamente através do meu espetáculo, Sócrates tem de morrer, em 2018 – e também nas OTO (Oficinas do Teatro Oficina), entre outros projetos. Já conhecia as equipas, mas agora conheço de uma forma mais familiar.

Um dos objetivos do ano passado era abrir estas portas à sociedade e viver o teatro em comunhão com diferentes públicos num espaço aberto, inclusivo e seguro. Chegas a este espaço com que premissa? Como é que gostavas que este lugar fosse vivido?

Gostava de contribuir para o teatro e para a produção teatral de Guimarães, para Guimarães e para o país, ao participar nessa organização. O Teatro envolve muita coisa e, se por um lado queria investir na produção e acompanhamento à criação artística local e nacional, por outro queria que aqui se pudessem sediar cada vez mais processos criativos, que acabam por fomentar pontos de encontro. É por isso que temos tantas oportunidades para que as pessoas e os projetos se possam encontrar. Desde os Encontros da Dramaturgia ao Programa de Criação Crítica (de residências artísticas), queremos acompanhar e desenvolver obras de teatro, percebendo de que forma é que podemos articular todos os universos do teatro e da prática teatral. Tivemos ainda uma audição e eu vou criar, em outubro, um primeiro espetáculo para o Teatro Oficina e para este espaço, que é pequeno, mas, ao mesmo tempo, muito rico.

Há sempre um debate em torno da questão: “De que forma pode o Teatro Oficina ser útil?” Por um lado, temos a preocupação por quem produz e, por outro, por quem vê. Eu encontro-me entre esta partilha e só faço programas para as pessoas se encontrarem.

Mickaël de Oliveira @Nuno Sampaio

E neste lugar de encontros, que possibilidades se despertam, principalmente para quem cria?

Trabalhamos a profissionalização dos agentes do teatro, apoiando-os. Claro, tudo à dimensão do Teatro Oficina, que é uma estrutura (ainda assim) pequena, mas com uma enorme dimensão, a qual é necessário preservar porque ganha-se muito com escalas mais pequenas, mas temos também de emancipar. O grande objetivo é que as pessoas se cruzem e troquem pensamentos ou conheçam, por exemplo, o trabalho da Patrícia Portela, uma das maiores romancistas portuguesas da atualidade, ou de outros criadores e criadoras que vão passar por aqui e que são nomes incontornáveis a nível nacional. É mesmo um lugar de encontro.

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