Vou explicar-vos um pouco do processo criativo que depois resulta no que escrevo aqui todos os meses. Ah, olá, antes de mais. Desculpem a má educação. Já ia entrar assim de chancas, sem cumprimentar, nem nada. Bem, o processo criativo é o seguinte: eu chego ao fim de semana, vejo se há uma quantidade grande de jogos para eu ver na televisão e, consoante haja ou não haja, eu escolho uma parte do dia para escrever sobre algo que me apoquente ou que apoquente a sociedade – normalmente, a sociedade apoquenta-se com coisas muito mais importantes do que aquelas com que eu me apoquento, mas temos de nos adaptar.
A minha primeira ideia era, tal como no final de 2019, prever algumas coisas que poderiam ocorrer no ano que começava. Mas como 2020 correu que foi uma maravilha e eu fico sempre a achar que a culpa é minha – embora, nunca é suficiente lembrar, eu não como uvas passas, nem peço desejos no dia 31 de dezembro -, decidi escolher outro tema. Só que não tinha tema, isto é para a gente tentar rir e eu só tinha para contar o quão deprimente é o Natal sem família alargada. Porque, sim, eu passei o Natal sem estar com a minha família, portanto, felizmente, também não tenho casos de Covid para vos contar. Olhando pelo lado positivo, pelo menos não fui obrigado a comer bacalhau no Natal, nem na passagem de ano. E seria isto que eu teria para vos contar, se tivesse optado por essa temática.
Graças ao bom Deus, tendo adiado a escrita por uma semana, ocorreu uma tentativa de golpe de Estado nos EUA, de maneira tão desleixada como o cabelo do mandante. Do alegado mandante, perdão. E ocorreu também algo inesperado, que foi: as coisas más não acabam por termos passado de ano – nem na vida, nem na escola, porque há Matemática até ao 9.º ano, pelo menos. Na primeira semana, 2021 já foi um shot impactante de Trumpismo, aumento de casos de Covid – que, pasmem-se, não ficou em 2020 – e gritos do Ventura em horário nobre.
Mas voltando à invasão ao Capitólio: se havia dúvidas de que os apoiantes do Trump são pré-históricos e que a área cerebral está um bocado desocupada, basta olhar para o “senhor” que se vestiu de bisonte, ou o que era aquilo, para invadir a casa da suposta maior democracia do mundo. Só faltou lá deixar umas pinturas rupestres e depois ir embora na viatura do Fred Flinstone.
Depois, temos outro género moderno de seres inteligentes, que são aqueles que foram lá para dentro só para tirar fotos. E que, voltando ao que falei há pouco, nem devem ter chegado ao 9.º ano de Matemática, porque continuam a dizer que os resultados das eleições estão mal contados. Mas eu compreendo-os: entender o sistema eleitoral americano não é para todos. Também preciso que me expliquem, de quatro em quatro anos. Isso e as regras do futebol americano, que andei anos para perceber. Vai-se a ver, o problema não é meu, é das coisas que eles criam lá nos States.
Falemos também do alegado cabecilha alegadamente loiro. Estava claro que não nos íamos, nem vamos, livrar dele tão cedo. Felizmente, temos a experiência do Anjo Selvagem, que durou dois anos sem mudar o enredo, sempre a insistir nas mesmas coisas, com gente que continuava a achar aquilo interessante. Mas o resto do mundo não passou por isso. Acho que Portugal pode dar o exemplo e ajudar toda a gente a lidar.
Quero também prestar a minha solidariedade à Melania Trump e às paredes da casa da família Trump – não confundindo a Melania com uma parede -, porque agora, sem acesso às redes sociais, vão ter de aturar, ainda mais, as baboseiras do Donald. É o momento certo para lançarmos o movimento #PrayforMelania, porque o marido não tem acesso. Solidarizo-me também com a Ivanka Trump, mas para outras coisas.
O que aconteceu no Capitólio foi estapafúrdio, fazendo jus a toda a comandita do Trump. Foi estapafúrdio também por, aparentemente, o Capitólio ser “protegido” por típicos guardas de filmes americanos, apreciadores de donuts e com pouca capacidade de movimento, pela maneira como deixaram os invasores à vontade. Devem tê-los confundido com flocos de neve, por causa da cor.
Mas importa também vermos que isto parece que acontece lá longe, mas estamos em mês de eleições presidenciais cá no burgo. Também conseguimos ser bons no populismo, nas invasões vindas do nada – basta chamar o pessoal de Alcochete – e nos ajuntamentos vindos das redes sociais. Fazei cuidado com a brincadeira!
Sobre o autor:
Tenho dois apelidos como os pivôs de telejornal, mas sou o comunicador menos comunicativo que há. Bom moço, sobretudo.