
Há dias sugeriram-me um filme sul coreano chamado Okja.
Uma sugestão sublime, um filme de excelente qualidade, da fotografia à banda sonora, da caracterização ao enredo. O filme retrata a história de um conjunto de porcos magníficos, gigantes, suculentos, que foram entregues a agricultores de todo o mundo por forma a se produzir uma nova espécie que nos iria alimentar.
É uma analogia tão real que parecia que conhecia intimamente as personagens e porquê do que estava a acontecer.
Será que é analogia ou será real?! Quantos alimentos geneticamente alterados é que ingerimos?
Quantas coisas se passam na nossa vida que tomamos como verdadeiras e que, afinal, não o são?
De que é que o nosso dia-a-dia depende daquilo que nos querem fazer acreditar?
O que é que estamos dispostos a fazer para que o nosso nível de vida se mantenha idêntico ao das últimas décadas?
O que estamos dispostos a abdicar para que o planeta abandone a rota de destruição?
Numa das minhas últimas crónicas, aqui na Rua, referi que vivemos uma crise energética sem precedentes: há escassez de recursos, porque a Rússia usa o gás e o Nord Stream como arma económica contra o ocidente; porque há informação contraditória entre a OPEP e a JP Morgan sobre as reais necessidades de crude nos mercados e a necessidade da sua produção.
E no meio da crise energética, ou a reboque dela, estamos a alterar hábitos de consumo. O principal é na mobilidade, com a passagem de motores térmicos para motores eléctricos, discutindo-se, depois, a questão das baterias ou a célula de hidrogénio.
Mas um automóvel só depende do petróleo para se mover? De onde vem o plástico que é usado em muitos componentes, com o intuito de baixar o peso e o valor do automóvel? As ligas metálicas e peças de fundição são manufacturadas à custa de energia.
A fruta, exoticamente exibida nos escaparates dos supermercados, brilhante, bonita, como se tivesse saído de uma linha de montagem, tem esse aspecto à custa de óleos que derivam do petróleo.
O batom de cor, fraldas para bebé, utensílios domésticos, computadores, um número infinito de objectos que dão sentido ao nosso dia-a-dia, que nos libertam de algumas tarefas para termos tempo para estarmos dedicados à família, a hobbies, ao ócio.
Por isso, quando se fala em revolução energética, e como o mundo é um sistema de vasos comunicantes, uma das perguntas que se coloca é: até onde estamos dispostos a abdicar, na facilidade do nosso dia-a-dia, na nossa comodidade, em prol do planeta e das gerações vindouras.
Outra é: quando é que vamos exigir, a quem nos governa, um planeamento e execução de uma verdadeira rede de transportes públicos, integrada, com capacidade de transportar pessoas e mercadorias, a todo o lado, com baixas emissões e baixo custo.
Outra poderá ser: para quando uma política e um plano de acção para fim do desperdício da água doce, 1% da água do planeta, e início da dessalinização.
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Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia.
Sobre o autor:
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