Revista Rua

2021-05-14T15:45:03+01:00 Cultura, Pintura

Rodrigo Veloso, o arquiteto seduzido pela pintura

Rodrigo Veloso expõe "À Margem" de 20 de maio a 4 de junho, no espaço Corrente, em Arroios.
©Manuel Manso
Maria Inês Neto12 Maio, 2021
Rodrigo Veloso, o arquiteto seduzido pela pintura
Rodrigo Veloso expõe "À Margem" de 20 de maio a 4 de junho, no espaço Corrente, em Arroios.

Formou-se em Arquitetura, mas depois de um estágio num escritório de arquitetos considerou dar um novo rumo à sua vida profissional. Artista desde sempre, o gosto pelas artes plásticas levou-o a abrir portas à pintura e ao mundo fascinante da expressão artística que sempre o caracterizou. Rodrigo Veloso viajou até ao Egipto no início do ano passado, onde se viu confrontado com uma cultura que em muitos aspetos o inspirou a transpor para a tela as paisagens e os cenários idílicos com os quais se deparou. À Margem é o nome da nova exposição individual do artista, que apresentará as mais recentes obras entre 20 de maio e 4 de junho, no espaço Corrente, em Arroios.

Numa perfeita harmonia entre uma linguagem mais figurativa e outra mais abstrata, a exposição deixa a interpretação à margem do espectador.

Gostava de começar por conhecer melhor o percurso do Rodrigo. Estudou Arquitetura, mas é nas Artes Plásticas que melhor se revê. Verdade? Conte-nos um pouco do seu percurso e da passagem da Arquitetura para a Pintura.

Comecei por estudar Artes Visuais no ensino secundário. A minha professora de desenho era pintora e as aulas e os trabalhos que desenvolvíamos tinham uma forte vertente de pintura aliada ao desenho. Era-nos incutido, a mim e aos meus colegas, uma prática de desenho e pintura quase diária, explorando diversas técnicas, materiais e temas, sempre com referências de artistas conhecidos ou mesmo ex-alunos do curso. Essas bases foram fundamentais no meu percurso. Quando quis seguir o ensino universitário, tinha interesse por diversas áreas como o desenho e a pintura, que já vinha a trabalhar, mas também Design Gráfico ou Arquitetura. Acabei por escolher a segunda opção por, na altura, me parecer a área mais multidisciplinar e que me permitiria ter contacto com um pouco de todas as outras. O que acabou por se confirmar, mas após os cinco anos de curso e um ano de estágio em arquitectura decidi que estava na altura de dedicar (novamente) mais tempo, energia e dedicação às artes plásticas.

Em que é que se inspira para criar ou que mundos da arte procura explorar?

Inspiro-me nas mais pequenas coisas: em pessoas, na natureza, momentos. Interesso-me por diferentes culturas, formas de pensar e de viver. Inspiro-me em lugares, em viagens e em memórias e procuro estar em constante exploração, tanto de temas, como diferentes técnicas e abordagens à criação de arte.

Num percurso marcado pelo desenho, a pintura e a arquitetura, podemos considerar que estas três artes diferentes se interligam nas obras do Rodrigo? Há sempre um elo de ligação entre elas?

Diria que sim, que tem que o ser inevitavelmente. Todos nós somos formados por layers de um acumulado de experências que nos moldam e que dessa forma influenciam tudo o que fazemos. Assim, tem que haver um elo de ligação entre elas, nem que seja apenas o facto de terem sido produzidas por mim. Esta constante exploração tanto de temas como diferentes técnicas fez com que nestes (ainda muito recentes) anos de produção artística tenham acabado por resultar em obras com algumas características bastante distintas à primeira vista, mas que com uma maior reflexão se entende essa ligação entre elas. Mesmo o meu passado em Arquitectura me influencia bastante no meu dia a dia e, naturalmente, nas obras que produzo, apesar de não ser algo intencional, óbvio ou que me interesse particularmente explorar, simplesmente acontece, porque faz parte de mim.

No seguimento da pergunta anterior, em qual das áreas considera que é mais fácil expressar-se naturalmente? Considera que a pintura é mais “livre” ou também consegue encontrar essa liberdade de criação na arquitetura?

Em ambas as áreas é necessário bastante trabalho, motivação e força de vontade para estar sempre a aprender e a querer ser melhor. Penso que essa liberdade de criação é possível nas duas, apesar de em arquitetura ter mais limitações, uma vez que tem um lado funcional bastante mais presente. Para além de ser algo bonito e agradável, tem que resolver um problema e melhorar a vida das pessoas que utilizam o espaço – esse deve ser o principal objetivo. O curso de Arquitetura deu-me uma boa bagagem de cultura geral, assim como um novo olhar sobre o que me rodeia e é por isso um pilar fundamental no meu desenvolvimento, tanto profissional como pessoal. De qualquer forma, é na pintura e no desenho que encontro uma maior liberdade de expressão que me acontece de forma mais natural.

O Rodrigo vai expor brevemente em lisboa. Fale-nos um pouco do conceito da exposição, em que é que se inspirou e que obras escolheu para apresentar? Será a primeira vez que as mesmas são expostas?

É verdade! No dia 20 de maio vou inaugurar uma exposição individual, À margem no espaço Corrente, em Arroios, que poderá ser visitada até 4 de junho. Esta exposição tem como ponto central uma viagem ao Egipto, realizada no arranque do ano de 2020, antes da situação da pandemia ter atingido as proporções que todos conhecemos. Desta viagem marcante, houve paisagens e momentos que não me saíam da cabeça, principalmente durante a jornada de barco de quatro dias entre as cidades de Aswan e Luxor pelo rio Nilo. Pouco tempo depois de regressar a Portugal, entrámos no primeiro período de confinamento e esse tempo serviu para muita reflexão e também criação. Desde os acrílicos, o pastel de óleo, as tintas à base de goma-laca, assim como alguns objetos em grés porcelânico, todos os trabalhos que apresento nesta exposição, pela primeira vez, refletem uma harmonia entre uma linguagem mais figurativa e uma outra mais abstrata que deixam margem à interpretação de quem visita esta exposição.

Que planos tem em mente para os próximos tempos?

Desde que saí do atelier de arquitectura onde trabalhava, no final de abril de 2020, tenho estado envolvido, felizmente, em muitos projetos e com muita coisa a acontecer. Os planos para os próximos tempos, para além da exposição individual agora no final de maio, vão passar por uma mudança de país. Depois do verão irei com a minha namorada, a designer Inês Ayer, passar uma temporada a Nova Iorque. A Inês vai tirar um mestrado na School of Visual Arts e eu fui aceite no programa Certificate of Fine Arts da New York Academy of Art, que ainda estou a analisar se me será possível comportar financeiramente, aguardando com alguma expectativa o desfecho de uma candidatura a uma bolsa de estudos. Se não avançar com o curso a ideia é ir de qualquer forma e abraçar novos desafios que possam surgir. Será mais uma grande aventura, tanto de entusiasmante como de assustadora, mas veremos o que o futuro me reserva.

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