Revista Rua

2023-09-01T18:34:49+01:00 Opinião

Setembro: a verdadeira passagem de ano

Crónica
João Rebelo Martins
1 Setembro, 2023
Setembro: a verdadeira passagem de ano

Há dias ia para a praia e passei à porta da Villa Belinha. Foi uma aragem, porque memória não pode ser: foi ali que passei as primeiras férias de verão, teria uns 4 ou 5 meses de idade. Sei que voltei lá por mais um ou dois anos e conta-se que caí à piscina e ainda não sabia nadar. Lembro-me das piscinas da Tia Isabel Maria e da Golférias, mas aí já me aventurava como um rápido golfinho, sempre dentro e fora de água.

Da Villa Belinha, não. Anos mais tarde, uma eternidade para quem tinha 3 ou 4 anos, a casa do Sr. Sousa, onde me apaixonei por uma alemã, Natacha, cujo automóvel do pai tinha o triângulo dentro da mala. Sei-o porque há uma fotografia que data o momento.

Verão e paixão rima:  quer fosse por alguma vizinha de toldo de praia a quem me faltava a coragem de ir perguntar o nome, o bobyboard que praticava com afinco com o Hugo, ou livros que arrumava em caixas para serem levados na mala do carro e lidos na praia. Mais tarde vieram paixões, daquelas com música como pano de fundo e, igualmente, a tristeza de não serem correspondidos, no meio de crises normais de adolescência.

Houve um verão que o passei a tratar e a montar cavalos, tendo eu feito um acordo com o Miguel: limpava as boxes e tratava dos animais e tinha aulas gratuitas. E lá ia eu, todos os dias, de camioneta, do Jardim até Carregosa, de calças e botas de montar, para jocoso deleite dos outros viajantes.

Outros houve onde estava sempre enfiado no ténis. Com livros além das raquetes, tentando saber mais de Savater ou de Mann do que de Sampras.

Uma vez, eu e o Jorge lembramo-nos de ir ter com a Filipa e o resto da comandita a Chaves. De camioneta até ao Porto, outra para Vila Real e mais uma até à raia, lá fomos ter com as nossas amigas, porque com o final da escola, exames, praia e afins, íamos estar um mês ou mais sem nos vermos.

E, em Vilamoura, com o Francisco e o Luís, saltar da janela do quarto para o terraço do vizinho, para depois descer pelas escadas dele e ir ter com o resto dos miúdos do aldeamento até ao amanhecer?!

E o Furadouro?!

Mais do que a memória dos verões, das chamadas férias grandes, é Setembro que indica a mudança: a ida para a escola, o reencontro com os colegas ou a descoberta de algo novo: a mochila, a roupa acabada de comprar porque a do ano anterior já não servia, as novidades, aquela pessoa especial que já não via há meses e a quem se quer contar tudo; como se tivesse sido ontem a última vez que nos tínhamos encontrado.

Em Setembro as sardinhas ainda são boas, e é a altura de se abrirem as primeiras ostras; é quando os dias começam a ficar mais frios e uma fina camisola aconchega-nos como se de um abraço terno se tratasse. Em Setembro a luz adquire uma tonalidade única. O restolho queimado rejuvenesce a terra, Setembro é a mudança!

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Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia.

Sobre o autor:
Consultor de marketing e comunicação, piloto de automóveis, aventureiro, rendido à vida. Pode encontrar-me no mundo, ou no rebelomartinsaventura.blogspot.com ou ainda em instagram.com/rebelomartins. Seja bem-vindo!

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