
Sofia Escobar: “Estou a sair da minha zona de conforto e isso vale sempre a pena”
Reconhecida internacionalmente como uma das artistas de teatro musical mais prestigiadas em Espanha e no Reino Unido, Sofia Escobar tem mantido uma carreira constante na interpretação de inúmeras personagens admiráveis em musicais do West End e da Broadway. Passou pelo West Side Story e também pelo O Fantasma da Ópera e, contrariando as expectativas de que pouco ficaria a conquistar para além disto, lança o seu primeiro álbum de originais, com temas escritos em português, espanhol e inglês – não fosse a vida de Sofia Escobar dividida entre os três países.
Tanto Mais estreou há uns meses e espelha a ânsia de provar que nunca é tarde para arriscar novos caminhos quando há tantos sonhos por conquistar. Em entrevista para a RUA, fala-nos da vontade de subir a palco com temas originais, pela primeira vez, ao mesmo tempo que anuncia a participação num musical que lhe é muito especial: Música no Coração.
Ao fim de tantos anos de carreira, a Sofia lança-se finalmente na discografia a solo. Presumo que este álbum nasça depois de um longo período de maturação. Chegou o momento?
Sim! É um sonho antigo que finalmente consegui concretizar com a equipa que sempre sonhei, com as pessoas certas. Há coisas que demoram o seu tempo, mas há um porquê. Até aqui ainda não se tinham juntado as “estrelinhas” para fazer o trabalho que eu gostava com o Renato Júnior e com todos os que escreveram para o álbum. É muito pessoal, tem letras minhas e também do meu marido, por isso tem bocadinhos da minha vida.
É um álbum que espelha muito a essência da Sofia, desde logo por ter temas em três línguas (português, espanhol e inglês). Sendo que a vida da Sofia passa por esses três países, era impossível ser de outra forma, correto?
No fundo, são os três grandes mercados onde tenho podido trabalhar. Era muito importante para mim ter música original em português, porque sinto que as pessoas me perguntam muito o porquê de não cantar tanto em português. Eu tenho essa dificuldade e, por exemplo, com O Fantasma da Ópera eu não consigo imaginar-me a cantar numa outra língua – não estou a dizer que não o faça se surgir uma oportunidade – mas é diferente. Escolho sempre fazer as coisas na sua versão original. Mas quando o original é meu, já é outra coisa. (risos)
Para a Sofia, o que é que era mesmo importante que o álbum refletisse? Que mensagem nos conta?
Era importante mostrar que eu não sou apenas a miúda dos musicais, daí o nome do disco: Tanto Mais. É obvio que eu nunca vou negar essa faceta, adoro teatro musical e estar em palco a interpretar outras personagens, mas tinha muita vontade de estar na minha pele. Isso era uma das grandes bases. Se calhar não é tão expectável, porque não é um disco de covers de teatro musical, são todos temas originais, mas a “costelinha” está lá. A palavra é extremamente importante e damos muita atenção às letras e o facto de ser gravado com uma grande orquestra também faz parte da minha formação e daquilo que eu queria que soasse deste álbum. A base orquestral para mim é muito importante e tinha saudades de ouvir essas influências, não apenas na música clássica ou no teatro musical, onde há sempre esse suporte, mas na música ligeira já é mais difícil de encontrar.
É um álbum que fala de amor, de vida. São as bases que a inspiram para criar?
Sim, muito! Tem também mensagens muito fortes e bonitas. Uma das músicas que mais me toca é a “Para a Vida”, que pode representar muitas coisas conforme a interpretação de cada um, mas para mim tem que ver com ser mãe, com um amor incondicional que nasce e nunca morre. É engraçado, porque a partir do momento que disse ao meu filho, Gabriel, que a música era para ele, não a consegue ouvir sem chorar. É maravilhoso! Só por isto, já valeu a pena. (risos)
Acima de tudo, queria tocar as pessoas e chegar a um público mais vasto.
O disco abre novas portas?
Abre, apesar de não fechar as anteriores, porque vou fazer teatro musical para o resto da vida, mas queria chegar a novos mercados, enquanto cantora e não apenas intérprete.
A Sofia vive muito da interpretação em palco, do que é criado no momento. O lançamento de um disco é um processo diferente, há todo um trabalho mais íntimo e que só depois de estar cá fora é que passa a estar suscetível à partida. Como é que tem sido também a experiência de subir a palco com algo muito próprio?
Tem sido diferente, é um mundo novo para mim e tem sido muito bom viver essa experiência em palco e fora dele. Tenho recebido muitas mensagens de pessoas que vão ouvindo e que partilham as músicas nas suas redes sociais. É uma sensação muito boa, confesso, porque sinto que mais uma vez estou a arriscar, estou a sair da minha zona de conforto, e isso vale sempre a pena. É bom sentir essa reciprocidade por parte do público, que mesmo as pessoas que já me seguiam por adorarem teatro musical também recebem muito bem este disco.
Tem assumido o papel de estar do outro lado de quem assiste e avalia uma performance em palco, num cruzamento de artes muito díspares. Falo do Got Talent Portugal. A experiência permite-lhe ter uma visão diferente da atuação artística?
É um papel ingrato e difícil, porque o Got Talent tem imensas artes que são diferentes entre si e acabamos por estar numa posição complicada ao ter de escolher entre um cantor e um acrobata ou qualquer outro. Para mim foi estranho, no início, estar do outro lado porque estou muito habituada a ser eu a estar em palco, a fazer audições, a ser avaliada, a ouvir muitas vezes um “não”. Sei muito bem o que as pessoas sentem quando estão ali e têm um tempo tão limitado para mostrar tudo o que valem. Tenho, por isso, muita empatia com todos. Comecei a sentir na pele que nós [júri] queremos que aquela pessoa que está em palco tenha um bom desempenho, ninguém quer que corra mal, é exatamente o contrário. Agora, quando vou para audições, penso sempre nisso e já não me sinto tão pressionada.

A carreira internacional da Sofia levou-a a ser considerada uma das artistas de teatro musical mais prestigiadas. Já participou em musicais notáveis como O Fantasma da Ópera, o que presumo que tenha sido um sonho. O mesmo acontece com o lançamento deste disco. É uma sonhadora?
Acho que os sonhos nunca acabam e ainda bem! É pensar: depois do Fantasma da Ópera, o que é que pode vir mais? Há sempre outro papel importante, outras coisas que queremos fazer – a nível pessoal ou profissional – e ainda bem que assim é. O álbum foi mais um passo nesse sentido, sonho com ele desde miúda. Nunca é tarde! (risos)
Estudou Canto e Representação em Londres, depois de passar pelo Conservatório do Porto. Era um salto necessário na altura? Já ambicionava uma carreira de sucesso no teatro musical?
A minha formação é na música clássica, não fui logo para o teatro musical. Quando saí do Conservatório, fiz provas para o Porto e para Lisboa e não entrei no Porto, onde eu queria muito, e fiquei muito triste. Chorei imenso até que uma professora do Conservatório me disse: “Porque é que não vais estudar para fora, o mundo não acaba aqui!”. Fiquei com aquilo na cabeça e percebi que não perdia nada em tentar, mesmo sabendo que Londres representa um mercado enorme e seria uma coisa de conto de fadas. A verdade é que fiz provas e entrei! (risos)
Hoje, há mais oportunidades, quer de formação como de trabalho no setor artístico, neste caso na música clássica?
Acho que se dá muito mais valor a quem deseja seguir uma carreira nesta área, há mais formação de qualidade e, acima de tudo, há mais apoio. Quando comecei a querer estudar música, não por parte dos meus pais que sempre me apoiaram, ouvia muitas vezes: “Vais viver de quê?”. Eu sei que não é por mal, tem que ver com o receio que as pessoas sentem em relação à instabilidade desta área. É verdade que é uma vida muito instável e nunca sabemos como é que vamos estar daqui a um mês, quanto mais daqui a um ano. Mas entre isso e estar a vida inteira a fazer uma coisa de que não gosto…nem sei qual é o castigo maior. Se é para falhar, que seja a fazer algo que nos faça felizes.
Sendo uma sonhadora, acredito que ainda há muita coisa para fazer. O que falta ainda concretizar?
Tenho muita coisa marcada até ao final do ano. Vou ter o prazer de fazer um grande musical: Música no Coração. É outro sonho estar no papel da Maria – curiosamente, tenho interpretado muitas Marias. (risos) São quatro espetáculos em dois dias: 12 de novembro, em Lisboa, e 1 de dezembro, no Porto. Quero continuar a fazer concertos, a divulgar o álbum e tentar expandi-lo para fora do país.