Revista Rua

2019-11-07T19:41:48+00:00 Cinema, Cultura

Sofia Fernandes: “Sinto que marcamos o nosso terreno no cinema jovem nacional”

Sofia Fernandes é a vereadora que coordena a equipa do Ymotion, o festival de cinema jovem que nasceu em Famalicão, mas que há muito que fugiu das fronteiras do município.
Fotografia ©Nuno Sampaio
Andreia Filipa Ferreira7 Novembro, 2019
Sofia Fernandes: “Sinto que marcamos o nosso terreno no cinema jovem nacional”
Sofia Fernandes é a vereadora que coordena a equipa do Ymotion, o festival de cinema jovem que nasceu em Famalicão, mas que há muito que fugiu das fronteiras do município.

Num momento em que nos aproximamos do encerramento da quinta edição do Ymotion – Festival de Cinema Jovem de Famalicão (que, já agora, conta com um painel de jurados de luxo), fomos falar com o rosto de uma equipa que tem sido incansável para tornar Vila Nova de Famalicão na capital do cinema jovem português: Sofia Fernandes, a vereadora da Juventude do município famalicense. Com a certeza de que este fim de semana – que conta com um concerto da banda Variações (sexta, dia 8) e com uma sessão de encerramento com homenagem à atriz Beatriz Batarda (sábado, dia 9) – será mais um momento alto do trajeto do festival Ymotion, Sofia Fernandes fala-nos de como tem sido esta aventura pela sétima arte.

A entrevista foi realizada na Casa da Juventude de Famalicão

Fotografia ©Nuno Sampaio

Em primeiro lugar, gostaríamos de voltar ao início deste Ymotion, para dar a conhecer aos nossos leitores a génese deste festival. Como é que tudo começou? Como é que surge a ideia de tornar Famalicão na capital do cinema jovem?

O Ymotion começou há cinco anos. Sentimos a necessidade de criar algo ligado ao cinema, que envolvesse as escolas, porque temos no nosso concelho (e também na periferia) várias instituições que lecionam o audiovisual e a multimédia. Realmente, temos turmas com muitos jovens a optar por seguir esta área e não havia resposta, não havia algo que os fizesse continuar o seu percurso no concelho. Então, a ideia surgiu para ir de encontro às necessidades dos jovens. Inicialmente, captamos a atenção de alguns jovens, mas hoje em dia vemos que realmente crescemos, que o sucesso é muito e há cada vez mais procura por estas áreas. Já lá vão os tempos em que os jovens procuravam fazer um percurso em áreas muito específicas, como a saúde, o direito, a arquitetura ou até as engenharias. Agora, os jovens escolhem outras opções e uma delas é, de facto, a sétima arte. O Ymotion, que começou como algo pequenino nas escolas do concelho e imediações, agora chega a concelhos como o Porto ou Vila do Conde. Procuramos parceiros pelo país fora, tornando o festival num projeto nacional. Sinto que marcamos o nosso terreno no cinema jovem nacional. 

Em muito tem ajudado o facto do Ymotion estabelecer parcerias com personalidades de renome, sejam realizadores, argumentistas, atores ou até críticos de cinema, como é o exemplo do curador deste festival, o Rui Pedro Tendinha. Considera que a alavanca para o sucesso do Ymotion está nestas parcerias?

Claro que sim! Cada vez mais. Os projetos não crescem se trabalharmos sozinhos. No Ymotion fazia realmente sentido termos estes parceiros todos: as escolas, os cineastas, os realizadores, as televisões, as rádios, a Revista RUA… Estes parceiros são muito importantes para nós! É óbvio que o projeto não teria crescido tanto sem estes parceiros, principalmente as escolas, porque é onde, de facto, os jovens estão. Estamos sempre abertos a novas parcerias e até ao contributo de mecenas. Há dois anos que colocamos a hipótese de ter mecenas no Ymotion e têm surgido empresários interessados em colaborar. Porquê? Porque realmente sentem que esta área é algo que os jovens gostam e, ao estarem envolvidos no Ymotion, estão a ajudar a promover a curiosidade.

“Eu quero acreditar que já marcamos esse lugar de “capital do cinema jovem” e vamos fazer crescer essa ideia ainda mais!”

Considera que, de alguma maneira, este “bichinho” do cinema que está a ser incutido aos jovens fará com que esta ideia de Famalicão ser considerada a capital do cinema possa perdurar? É esse o objetivo central?

Eu acredito que sim! Aliás, eu quando me entrego aos projetos, juntamente com a minha equipa – a quem devo tudo – é porque realmente acredito que é possível. Se assim não fosse, não faríamos tantos esforços… Há muito esforço envolvido porque, apesar de as pessoas ouvirem falar do Ymotion principalmente em maio e em novembro, isto é um trabalho de um ano inteiro. Eu quero acreditar que já marcamos esse lugar de “capital do cinema jovem” e vamos fazer crescer essa ideia ainda mais!

Nesta questão do esforço da equipa, gostaríamos de perceber, exatamente, como é que isto tudo se processa. Qual é a dinâmica?

Isto é um festival e, portanto, tem toda a dinâmica de um festival. Esta quinta edição termina com a sessão de encerramento, este sábado, dia 9 de novembro. Em janeiro, a equipa começa a trabalhar nas Projeções Conversa, que acontecem nas escolas, normalmente, nesse mês ou em fevereiro. Vamos a todas as escolas parceiras mostrar curtas ou filmes que vão surgindo e que são debatidos com os jovens e com quem percebe: neste caso, realizadores, cineastas, atores, direção de fotografia e outras áreas. Tentamos envolver essas pessoas, que vêm de facto cá a Famalicão tirar dúvidas aos jovens e conversar com eles. Tem sido muito interessante ver que, no início, estas Projeções Conversa começaram devagar, mas rapidamente as turmas encheram, porque os jovens, ao saber que têm lá as pessoas entendidas da área, que vão poder visualizar as curtas e perceber como é que são feitas, mostraram muito interesse em estarem presentes. Cada ano que passa, vamos a outras escolas que lecionam audiovisual e multimédia para conversar com os jovens. Tem sido uma dinâmica bastante interessante que permite, também, colocar os vencedores de prémios do concurso do Ymotion em debate com os jovens que tem o “bichinho”.

Em maio, temos o lançamento da nova edição, que é também um momento alto. É aí que começa a submissão das curtas, que acontece até ao início de outubro. Depois, inicia-se a árdua tarefa do júri. Este ano tivemos 172 curtas submetidas, do país inteiro, desde as Ilhas ao Alto Minho. Obviamente há uma pré-seleção, na qual, dessas 172 candidaturas, foram a concurso 44 curtas. Agora, o júri teve essa difícil tarefa de visualizar os trabalhos e avaliar. Eu já vi algumas, nas sessões que temos feito aqui na Casa da Juventude, onde o público pode votar, porque temos o Prémio Público. Também descentralizamos as sessões de visualização para a freguesia de Esmeriz, de Cabeçudos e de Joane. Devo dizer que estas sessões são muito interessantes, porque vêm muitos jovens que submeteram as curtas, mas também pessoas de fora do concelho. Por fim, acontece o momento alto, que é a sessão de encerramento.

Fotografia ©Nuno Sampaio

Falando desta sessão de encerramento, já neste fim de semana, o que podemos esperar? Já sabemos que no dia 8 teremos um concerto da banda Variações e no dia 9 a homenagem à atriz Beatriz Batarda. Será um fim de semana de celebração do melhor do cinema, portanto?

A banda Variações foi escolhida, porque sentimos – e toda a gente sabe – que o cinema está ligado à música. Como, neste caso, o vocalista da banda foi o ator principal do filme Variações, achamos que poderia ser uma boa ideia a vinda deles cá. Primeiro, devido a essa junção da música e do cinema e, depois, pela curiosidade que as pessoas tinham em ouvir a banda, que surgiu há muito pouco tempo e ainda não tinha estado cá no Norte. Ter a banda aqui no Ymotion é, para mim, um orgulho enorme, devido à ligação que tenho ao cinema e ao próprio filme, que despertou uma curiosidade imensa. Foi o filme mais visto em Portugal este ano! No caso da homenagem à Beatriz Batarda, convém mencionar que quem nos dá uma ajuda na escolha da personalidade a homenagear é, novamente, o nosso comissário, o Rui Pedro Tendinha. Normalmente é ele quem nos indica quem poderá ser e, depois, nós definimos. Devo dizer que estamos sempre em acordo! (risos) A Beatriz Batarda foi escolhida desta edição devido ao seu percurso e à sua carreira já internacional.

“Já tivemos oportunidade de homenagear a Lúcia Moniz, o Joaquim de Almeida, o António Pedro Vasconcelos, a Rita Blanco e, agora, a Beatriz Batarda”

É muito interessante existir a oportunidade de homenagem a um artista vivo. Acho que é, de facto, muito bonito termos uma sala cheia a homenagear o trabalho de alguém que de facto está ali connosco. Concorda?

Exatamente! Já tivemos oportunidade de homenagear a Lúcia Moniz, o Joaquim de Almeida, o António Pedro Vasconcelos, a Rita Blanco e, agora, a Beatriz Batarda. Penso que é importante haver também a possibilidade de homenagear artistas de várias faixas etárias, dos mais jovens aos mais velhos. É ótimo!

A Sofia nestes últimos tempos tem-se tornando numa especialista em cinema. Como é que tem sido esta experiência de estar envolvida com uma área que, inicialmente, não era a sua?

(risos) Eu gostava muito de ir ao cinema no tempo da faculdade, mas depois comecei a perder a oportunidade de ir mais vezes. A verdade é que começamos a trabalhar e as coisas vão-se complicando. Devo dizer que, nos primeiros momentos de Ymotion, não era fácil! (risos) Aliás, eu recordo-me de falarem comigo sobre alguns nomes e eu tinha de ir pesquisar para ver quem eram… o que é normalíssimo, porque andamos focados na nossa vida e há coisas que nos vão passando ao lado! (risos) Tem sido uma experiência fantástica, enquanto pessoa e vereadora para a juventude no município. Primeiro, porque é uma área que eu acho que desperta interesse para toda a gente, na qual conhecemos muitas pessoas totalmente diferentes e com vivências distintas.  Há sempre coisas que deixamos ficar ou que levamos connosco deste contacto. Para mim, tem sido uma experiência verdadeiramente positiva e muito interessante!

Casa da Juventude de Famalicão ©Nuno Sampaio

Agora nesta altura em que nos aproximamos de mais uma fase de encerramento do Ymotion, já se pensa em como inovar nas próximas edições?

Nós, à medida que vamos trabalhando, vamos falando e concluindo: “Olha, para o ano já podemos pensar nisso!”. Vamos sempre alinhavando ideias. Penso que, mesmo que passem muitos anos deste festival, há sempre coisas a alinhar. Claro que vamos sempre nos adaptando, tanto a nós próprios como ao cinema, limando arestas constantemente.

Nós estamos exatamente na Casa da Juventude de Famalicão e não poderíamos ir embora sem pedir para nos apresentar este cantinho dos jovens. Que balanço faz da atuação desta Casa da Juventude?

A Casa da Juventude é recente ainda. Nós já a tínhamos, mas era uma casa mais pequena e com menos valências. Em setembro de 2013 inaugurámos este espaço, que tem crescido imenso desde aí, não em termos de edifício em si, mas na questão dos projetos e na procura dos jovens pela nossa casa, que é também deles. A Casa tem as suas portas abertas a todos jovens, entre os 12 e os 35 anos, e cada vez mais levamos a própria Casa para fora dela. Vamos às escolas, às comunidades, às freguesias, também para divulgar melhor, porque, muitas vezes, as informações ficam muito na cidade e precisamos de chegar a todo o lado. Não nos podemos esquecer que temos 34 freguesias, às quais precisamos de chegar. O balanço que fazemos sobre esta casa e sobre os últimos anos é muito positivo. São cada vez mais jovens, de diferentes faixas etárias, a procurar a Casa. Temos muitas valências aqui, muitos projetos diários, mesmo ao fim de semana, porque a equipa está aqui para receber os jovens com diferentes atividades. Portanto, o balanço é extremamente positivo. Tanto que, em breve, teremos novidades: uma sala multimédia, com equipamento de topo disponível para utilização (sob o pagamento de um valor simbólico), que permitirá aos jovens realizarem os seus trabalhos – e quiçá candidatarem-se ao Ymotion!

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