The Yellow Jackets: em busca dos templos perdidos
The Yellow Jackets é um projeto fotográfico de Ivy e Athon e, juntos, viajam por Portugal e Europa à procura de locais abandonados. A ideia é “dar a conhecer estes lugares que a maioria da população conhece, mas ao mesmo tempo desconhece, apelando assim à preservação do património edificado que ainda resta”. O casaco amarelo é o elemento em comum em todas as fotografias, dando-lhes, “de certa forma, uma nova vida”.
A primeira pergunta não poderia deixar de ir ao encontro aos casacos amarelos: o que simboliza esse elemento na vossa composição? A estética da cor é uma forma de distinção de tudo o resto?
Yellow Jackets – O casaco amarelo tem uma simbologia muito especial para nós. Começámos por utilizar um casaco amarelo que pertencia ao pai do Athon, e gostámos imenso do contraste que o mesmo criava nos locais abandonados, que são tipicamente tristes, sombrios e sem vida. O amarelo dava-lhes, de certa forma, uma nova vida. Sendo esta uma cor criativa, que nos remete imediatamente à luz – a essência da fotografia, e que é alegre por si mesma, acaba também por representar para nós a superação das dificuldades, a sensação de felicidade e conquista por conseguirmos entrar em sítios extremamente arriscados, sem saber de antemão o que é que vamos encontrar e de ver coisas que a maioria das pessoas não tem acesso. Entretanto, começámos a sentir que os nossos registos não estavam totalmente completos e que seria engraçado termos dois casacos amarelos, para que ambos pudéssemos estar representados na mesma fotografia. Por ironia do destino encontrámos um outro casaco amarelo, em muito mau estado. Nós lavamo-lo, esfregamo-lo imenso e começámos a usá-lo também. E, resumidamente, é assim que surge o projeto The Yellow Jackets.
A escolha de apenas locais abandonados é uma chamada de atenção para estes sítios, que poderiam ser reaproveitados?
YJ – Sim, estes locais estão carregados de histórias e de história. Fazem parte da nossa história enquanto comunidade e guardam nas suas paredes e tetos um bocadinho de cada um de nós. Além disso, como nós nunca sabemos o que é que vamos encontrar atrás da porta, é um desafio constante. Geralmente, são imóveis extremamente interessantes em termos de fotografia, com contrastes únicos de luz e sombras e que muitas vezes parecem saídos de cenários de filmes. O projecto The Yellow Jackets pretende dar a conhecer estes lugares que a maioria da população conhece, mas ao mesmo tempo desconhece, apelando assim à preservação do património edificado que ainda resta.
A história destes locais são inspiração para cada momento que fotografam?
YJ – Sem dúvida! Não só a história riquíssima de cada um destes locais, como tudo o que os mesmos nos transmitem no momento, a vários níveis distintos. As nossas fotografias acabam por ser inevitavelmente espontâneas, sendo que muitas vezes nem vamos com ideias preparadas, criamos os registos de acordo com o que o local nos inspira. Nós somos muito inspirados pelo que sentimos e o que queremos transmitir a quem veja as nossas fotografias é exactamente isso, que se sintam um bocadinho “na pele” dos Casacos Amarelos, acreditem no amor e na amizade, vivam em constante auto-desafio! Há um mundo por descobrir, e estes lugares, que parecem saídos do nosso imaginário, fazem-nos viajar dentro deles e de nós próprios.
Viajam por Portugal, mas também pela Europa à procura de novos locais. A carga emocional é mais forte quando fotografam no vosso país?
YJ – A carga emocional é diferente. Quando fotografamos este tipo de imóveis no nosso país, conhecemos mais facilmente a sua história. Muitas vezes são locais que nós já conhecíamos antes de terem sido abandonados ou que os nossos pais e avós conheciam na sua época. São sítios pelos quais passamos inúmeras vezes e, apesar de já contarmos com a visita, às vezes ainda ficamos incrédulos com o estado em que alguns deles se encontram.
Um local abandonado que ainda não tenham fotografado e que está na vossa agenda?
YJ – Imensos! Temos um mapa cheio de locais abandonados para visitar, tanto em Portugal como no estrangeiro. Um dos nossos objetivos é precisamente conhecer os lugares mais inusitados do mundo, lugares que marcaram a história por diferentes razões e que encerram em si mesmos estes marcos, como cápsulas do tempo. Cada país acaba por ter traços e característicos também a esse nível e nós queremos conhecer, explorar e documentar o máximo possível.