Uma azeitona bordada em azul, na Galeria da Estação
A Galeria da Estação, pertencente aos Encontros da Imagem, vai expor de 6 de janeiro até 24 de fevereiro a exposição de Rui Costa, que venceu o prémio Novos Talentos da Fnac em 2023.
“Vulnerável, essa necessidade de impermanência que se manifestou, inexplicável, num segundo em apneia próximo do definitivo, interminável. A oportunidade que surgiu e aqui documento, entre incertezas de uma verdade imaginada e a fragilidade familiar que me afasta o discernimento. Tentei voltar a esse lugar, emocional, para te tentar compreender, irracional, mesmo sabendo que nessa pele que habitas, há mais linhas e menos palavras, que as contidas nesta folha. E sem questionar a tua escolha, procuro entender o que não sinto. O ensaio surge após a tentativa de suicídio da minha avó, no início de 2022. Um acontecimento abrupto, sinónimo de rutura e inquietação. Um limite que se alcançou, saturado e denso. Um caminho que se traçou, recomeçando e aprendendo com o que somos. Regresso então ao seu espaço seguro, para a reencontrar disponível como sempre, para a escutar com o tempo que nunca tive, para lhe dedicar todos os dias que não se repetem. Sento-me e ouço as histórias que tem para contar, algumas sei de cor de tanto as ouvir, outras são novas como as romãs em cima da mesa, mas todas antigas como a cor que traz vestida. Os dias passam e os minutos são dela, observo a sua presença no jardim que agora cresce, caminhamos ao fim da tarde sem receio que o sol se esconda. Aprendo com a superação que todos os dias me surpreende, que me motiva e faz acreditar que tudo isto faz sentido. Cresço com a presença que me apoiou ainda antes de me conhecer e retribuo com o meu estar, nesse lento viver devagar. Percebo agora como o propósito com que utilizamos a fotografia pode originar um impacto extremamente positivo na vida de alguém. Que um projeto fotográfico é uma troca de experiências, uma manifestação de respeito e confiança, uma necessidade em compreender e tentar ver o mundo pelos olhos de outra pessoa. Esta é a minha representação de gratidão e se a fotografia é memória talvez o tempo seja a homenagem. Na presença da penumbra, contemplo o espaço que a terra ocupa”, explica Rui Costa.
Rui Costa, Vila Franca de Xira, 1989.
Inicia o seu percurso no Instituto Português de Fotografia de Lisboa em 2020, onde se começa a interessar pelo desenvolvimento de projetos documentais e autorais. Em 2022 frequenta a Masterclass Narrativa com o fotógrafo Mário Cruz. É formador no Instituto Português de Fotografia de Lisboa desde 2023. Vencedor do prémio Novos Talentos Fnac 2023, na categoria de Fotografia, com o ensaio “Uma azeitona bordada em azul”.
A exposição pode ser visitada de terça-feira a sexta-feira das 10h30 às 13h e 14h às 18h00 e aos sábados das 13h às 18h.