Terra de Dragoeiros, espécie endémica da Macaronésia (região biogeográfica na qual se incluem as ilhas dos Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde), rica em propriedades de farmacoterapia, e que também servia às exigências da indústria têxtil italiana devido ao corante vermelho da sua seiva, o “sangue de dragão”, tornou-se o Porto Santo, a par da Madeira, um dos principais pontos de paragem atlântica durante a Expansão europeia ultramarina.
O igual aproveitamento das suas terras (então) mais férteis para o cultivo de cereais, nomeadamente cevada – indústria que permaneceu até ao século XX e da qual são testemunhos os típicos moinhos, imagem de marca da ilha -, colocam Porto Santo como posto de abastecimento às principais cidades portuguesas não apenas no norte de África como também do reino em continente europeu. Da mesma forma, também torna a ilha mais vulnerável aos ataques de piratas e corsários magrebinos e turcos. Ainda no século XIX eram comuns os saques e raptos entre a população porto-santense, que seria posteriormente vendida como mão-de-obra escrava em Túnis ou Argel. Na tradição oral da ilha ainda se perpetuam os contos e histórias de gentes que se refugiavam na Serra de Dentro e Serra de Fora, em grutas e cavernas esculpidas pela Natureza nas rochas das encostas a norte e nordeste, fugindo das invasões. A atual presença de matamorras, estruturas quinhentistas circulares escavadas no solo, testemunham a sua importância não apenas para guardar e preservar mantimentos como também para os proteger das eventuais pilhagens.
Também passa pela oralidade da população que Cristóvão Colombo ali tenha residido após casar com Filipa de Moniz, filha do primeiro Capitão Donatário do Porto Santo, Bartolomeu Perestrelo. É, no entanto, amplamente retratada a sua presença no Funchal, com estadias breves nas casas de João Esmeraldo (já destruídas e tendo dado origem ao Museu Cidade do Açúcar).
A Casa-Museu Colombo resulta assim da recuperação de um conjunto articulado de casas datadas do século XVI. Desta época resta originalmente a parede norte do edifício principal onde também se integram duas janelas tipicamente góticas. O museu compõe-se de rés-do-chão e primeiro andar onde é possível aos visitantes perceberem o contexto e importância da ilha dentro da Expansão Marítima. Várias peças e obras de arte servem como testemunho a uma época de franco crescimento e riqueza, mas também revelam a força e imposição da fé cristã enquanto argumento à “conquista e descobrimento”. A presença de escravos (negros e brancos) na ilha da Madeira é aliás conhecida, nomeadamente durante a produção da cana-de-açúcar, as perseguições religiosas a judeus, também. Talvez menos conhecidos sejam os ataques dirigidos à população inglesa de religião anglicana que, no século XVIII, foram bastante violentos.
Contudo, o Museu mostra também a extensão da diáspora portuguesa até ao Japão, por exemplo. As trocas comerciais de especiarias, sedas, pratas e artefactos são, de verdade, reveladoras da dimensão da empreitada do império português pelo mundo. Nas últimas salas do piso superior é igualmente apresentando parte do conteúdo que o galeão da Companhia das Índias Holandesas Slot der Hooge transportava quando afundou a norte da ilha do Porto Santo em 1724 junto à Ponta do Guilherme. Lingotes de prata, moedas, cerâmicas, compassos e outros instrumentos de navegação, cachimbos e tampas de tabaqueira fazem parte do conjunto doado à Região Autónoma da Madeira.
Já a pessoa de Cristóvão Colombo teve igualmente um papel único à época e, se erradamente designado por “conquistador”, não se lhe pode nem deve destituir a capacidade de, a par com outros navegadores, chegar mais longe, cruzar oceanos e abrir mundos ao mundo outrora conhecido.
Não nos devemos esquecer que a globalização é tão antiga como a própria Expansão Marítima e não se pode nem convém esquecer o papel que ambas tiveram em todos os sentidos, exatamente para que os mesmos erros do passado não se voltem a repetir no futuro cada vez mais próximo.
A Casa-Museu Colombo é legado e património. Um espaço único para quem quer aprender e tem respeito pela História Civilizacional.