Revista Rua

Olga Roriz

“A dança é algo que tem de vir de dentro de nós”
Andreia Filipa Ferreira2 Abril, 2017
Olga Roriz
“A dança é algo que tem de vir de dentro de nós”

Na noite de comemoração do seu 102º aniversário, o Theatro Circo recebe a Companhia Olga Roriz, com uma peça fortíssima que reverte a favor do programa desenvolvido pela Unicef em prol das crianças sírias afetadas pela guerra. Antes que matem os elefantes é a criação de Olga Roriz que promete dar “um murro no estômago” à plateia, trazendo a palco o sofrimento e devastação que a crise no Médio Oriente tem trazido à contemporaneidade. Aproveitando a visita da coreógrafa com costela minhota a Braga, a RUA esteve à conversa com a eterna bailarina Olga Roriz, numa entrevista que trouxe as memórias do passado e as preocupações do futuro à tona.

Fotografia: Vitor Ferreira

© Veríssimo Dias

Apesar de ter partido para Lisboa criança, a Olga é natural do Minho, mais precisamente de Viana do Castelo. Existe uma parte minhota em si?

Sim, eu acho que todos nós ficamos agarrados à terra onde nascemos. Eu fui passar muitas férias, durante a minha juventude, a Viana do Castelo, sobretudo por altura das festas da Nossa Senhora da Agonia, que são muito fortes, com aqueles bombos que faz a cidade vibrar. Eu sinto que sou mesmo daquela terra! Não só sinto que sou de lá, como algum do meu trabalho foi influenciado por Viana do Castelo.

Diria então que algumas peças criadas por si tiveram influências de Viana do Castelo?

Sim, algumas peças sim. Por exemplo, a Nortada (2009) era mesmo sobre a cidade de Viana do Castelo… a Terra do Norte (1985) e a Anjos, Arcanjos, Serafins; Querubins…e Potestades (1998) também. Portanto, há três ou quatro peças que eu fiz em que fui beber à infância. Não posso dizer que fui beber às minhas raízes porque não tenho raízes lá, mas refiro-me à infância e à família que existe (e que já não existe) e que era de lá.

A Olga costuma dizer que nasceu bailarina e desde cedo sabia que queria ser também coreógrafa. Como é que toda essa paixão surge numa mente de criança? Teve alguém que a influenciasse ou foi algo completamente natural?

Eu acho que foi natural, mesmo com os meus pais com percursos ligados às artes. A minha mãe era uma mulher das artes, do teatro… Ela adorava ter sido atriz, mas naquele período era tudo muito difícil – ainda hoje é, quanto mais naquela altura – e não conseguiu ser. Foi então jornalista, gostava muito de escrever… e cantar também! Ou seja, mesmo não sendo atriz, era uma mulher que nos puxava muito para o cinema, para o teatro, para a música, para a ópera. Mas aquilo que me pergunta, em concreto sobre a minha paixão, acho que surge quando eu tenho dois ou três anos. Acho que é daquelas paixões com que as crianças nascem. Parece que todas as crianças nascem a dançar, não é? Achamos sempre uma gracinha quando pomos uma música e a criança dança. A dança foi algo que me despertou uma atenção específica. Comecei a gostar mais de dançar do que brincar com a boneca, comecei a achar que tinha graça, que as pessoas gostavam (até os meus colegas pequeninos gostavam de me ver dançar). Eu criei ali um gosto… Obviamente que agora não me lembro o que me passava na cabeça, mas sei que quando era muito jovem, com cerca de sete ou oito anos, gostava muito de ir para casa, para uma sala específica, arranjar o mobiliário como eu queria, ajustar os estores conforme a luz, ir buscar uma música no rádio que lá estava e mostrar a minha encenação. Portanto, eu já encenava nessa altura. Era algo que eu fazia para mostrar a alguém, não era só para mim. Depois é que descubro, pela minha mãe, que não eram os bailarinos que faziam as suas danças, mas sim os coreógrafos. Disse imediatamente: “Eu quero ser isso!”. Para mim era quase óbvio que cada bailarino teria de fazer a sua dança, porque eu queria fazer as minhas danças. Eu tinha gosto e notava-se qye não era só uma coisa lúdica. Já tinha massa cinzenta por detrás. Eu já arranjava as coisas, fazia a minha história e encontrava o meu sítio para a apresentação de algo que me vinha de cá de dentro. Era uma coisa muito elaborada para uma miúda de sete ou oito anos.

Felizmente, da parte dos meus pais, tive todo o apoio e comecei então toda a parte de formação. Aí, começo a levar as coisas a sério, começo a perceber que afinal há ali uma profissão muito séria e que era aquilo que eu queria fazer. Já não havia dúvidas. Tudo se foi encaminhando, passo a passo, no sentido certo.

Em termos de formação, a Olga teve oportunidade de crescer com os melhores. Teve alguém (ou muitos alguéns) que guarde com carinho, por tudo o que lhe ensinou?

Tenho vários alguéns, ao longo do tempo. Cada um foi importante em cada situação. A Ana Ivanova, bailarina da Companhia da Pavlova, foi a grande mestre que me ensinou entre os oito e os 18 anos, ou seja, foi aquela que me ensinou as bases. Mas, por exemplo, antes disso, a Margarida de Abreu deu-me também aquilo que eu precisava, que não tem tanto a ver com as bases, mas com o amor pela dança, a paixão pela dança num ponto de vista mais lúdico, mas onde a disciplina já existia. Eu nessa altura vesti completamente a camisola, porque havia miúdas da minha idade completamente indisciplinadas e eu estava lá toda certinha, do princípio ao fim da aula. Olhava para elas completamente de soslaio, pensando: “o que estão aqui a fazer? Não querem trabalhar vão para casa brincar com as bonecas” (risos). Mas, efetivamente, eu tinha a mesma idade que elas. Quando chego à Escola de Dança do Teatro Nacional de S. Carlos estava muito preparada. A Margarida Abreu foi muito importante.

Depois, no próprio S. Carlos, cada ópera que eu via, cada temporada de dança, era para mim um mundo que se abria. No entanto, depois do 25 de abril, a escola fechou e tive de terminar a minha formação no Conservatório.

Teve outros mestres importantes no Conservatório?

Sim, mestres que foram os responsáveis do meu salto de aluna para profissional. No caso, a Júlia Cross e a Anna Mascolo.

Depois, quando cheguei ao Ballet Gulbenkian, tive os meus ídolos: o Ger Thomas era o meu ídolo da altura e o Jorge Salavisa o meu padrinho, tanto a nível de intérprete como de coreógrafa. Foi ele que acreditou em mim e que me convidou, sistematicamente, para fazer peças. O Louis Falco também foi muito importante não só para mim, como também para todo o elenco do Ballet Gulbenkian, porque ele tinha uma forma diferente de abordar o corpo no espaço, a respiração e a nossa relação entre bailarinos. Ele acabou por ser um grande amigo e eu sofri muito quando ele se foi embora. Ele esteve bastante tempo em Lisboa e estava sempre a fotografar. Há muita gente que julga que eu fotografo porque a minha família é composta por fotógrafos, mas não. Eu fotografo por causa do Louis Falco. Quando ele se foi embora, eu quis retomar esse gesto que eu o via a fazer. Então, para não me esquecer dele, fui comprar uma máquina e comecei a fotografar para me sentir na pele dele. Dessa paixão e dessas saudades surgiu toda a minha carreira como fotógrafa.

Ainda houve um coreógrafo, Lar Lubovitch, que foi muito importante para me posicionar como intérprete, como criadora. Eu nunca senti que tivesse um corpo de bailarina, aquele como corpo magrinho e com pernas muito altas.  Não é que eu fosse gorda porque não podia ser, mas tinha coxas e ancas à portuguesa, à minhota! (risos) E houve uma altura que ele me disse que eu era diferente por isso, que eu tinha umas costas e uma maneira de mexer e de comunicar as minhas costas que ia fazer toda a diferença na minha vida. E eu uau! Afinal aquilo que eu pensava que era um bocadinho diferente, tornava-me única. Daí surge aquilo que eu digo sempre aos meus alunos e intérpretes: nunca tentem ultrapassar os limites. Há uma particularidade que tu tens e é aí que tu tens de trabalhar.

Todas essas vivências acabaram por influenciar a criação da Olga?

Criativamente, eu sempre vi muita coisa e retirei influências. Não gosto muito de ver dança, gosto mais de cinema e teatro. Mas acho que a influência da ópera é maior: o cenário, as histórias, as personagens, a música… Mas a construção dramatúrgica que tem uma ópera é algo que nunca me abandonou. Mesmo quando eu comecei a coreografar, havia sempre uma construção dramatúrgica nas minhas peças, por muito que eu não tivesse ainda a noção do que é que era a dramaturgia. Nunca fui uma coreógrafa que me dei bem com dança pela dança – que o Jorge Salavisa muitas vezes me pedia e eu percebia porquê. Porque o passar por essa dança abstrata foi muito importante para eu conseguir crescer na minha linguagem como coreógrafa, perceber o que é que era a minha própria linguagem. Mas, para mim, não fazia sentido se a dança fosse para o nada, só a acompanhar a música. Nunca fez sentido. Tinha que haver uma intenção sempre em cada gesto.

Mas foi na Gulbenkian que a Olga Roriz coreógrafa nasceu, correto?

Profissionalmente sim. Mas eu acho que sempre tive esse bichinho. Como a formação em dança é muito dura, muito disciplinada, na maior parte das vezes as crianças perdem o seu lado lúdico, criativo… e eu não perdi. Eventualmente por causa dos espetáculos que vi. Tudo o que vi foi espicaçando imenso a minha imaginação, desde as grandes óperas de Verdi, por aquele barroquismo todo, e de Wagner, por aquela belíssima música, pelo peso dramatúrgico daquelas mulheres e homens que nunca mais morriam, a toda a dança clássica como O Lago dos Cisnes… Tudo isso eram contos de fadas que apareciam à minha frente.

De certa forma, a Olga entrou nesse mundo de conto de fadas…

Entrei logo! Eu não precisava que a minha mãe me lesse contos de fadas porque, em primeiro lugar, eu já ia cansadíssima para casa e, depois, eu já era a princesa (risos). Maquilhava-me, vestia os fatos e ia para o palco.

Há pouco falava-nos da necessidade de haver uma intenção em cada gesto. Foi essa intenção tão própria que a levou a formar uma Companhia própria?

Não, aconteceu só. Eu quando comecei os meus solos, em 1988, percebi que havia um método de trabalho que eu fazia comigo, um método que não era o que eu fazia na Gulbenkian (era impossível porque eu tinha um mês para montar uma peça e tinha de passar o movimento e a ideia o mais rapidamente possível. Não havia improvisações nem nada disso). Então, comecei a perceber que gostaria muito de trabalhar esse método com os bailarinos. Era com esse método que eu gostaria de continuar a minha carreira ou, pelo menos, tentar perceber como é que era. Aquilo ficou-me na cabeça, mas continuei na Gulbenkian. Fiz outros solos e, portanto, esse método foi-se desenvolvendo em mim. De repente, em 1992, o diretor administrativo da Companhia de Dança de Lisboa convida-me para ser diretora artística. Ora, eu como intérprete já quase que não dançava nada na Gulbenkian, já estava há 20 anos na casa e pensei que era um bom momento para partir. Pedi a minha licença e comecei esse trabalho. Aí comecei a trabalhar esse método com os meus bailarinos. E eu ainda continuaria lá se não tivessem havido desavenças com a administração. Não tinha ideia, nem vontade nenhuma, nem grito nenhum de Ipiranga para fazer a minha Companhia. Eu queria era ter uma Companhia onde eu fosse a diretora artística e que fosse uma Companhia de autor. Então, comecei a Companhia com o meu nome, mas com os mesmos bailarinos, que me quiseram acompanhar. Houve uma continuação lógica. Foi uma evolução natural do trabalho. Até aos tempos de hoje eu venho a desenvolver o mesmo método, mas com outros estímulos.

Costuma dizer-se que a Olga Roriz tem um estilo incomparável. Revê-se nesses elogios? O que acha que a torna tão única?

(risos) Penso que tem a ver com muitas coisas, não sei… Não é só uma coisa e não sou só eu. É tudo o que eu arrastei comigo, todas as minhas vivências, todos os meus amores, a minha família, tudo o que eu fui vivendo e a maneira como eu vejo as coisas, a minha personalidade, como ela se foi formando. Acho que é uma personalidade também forte. Eu percebo-me, mas tento sempre encontrar-me mais e mais. Uma coisa que foi muito importante também foi perceber aquilo que eu não queria. E eu tive essa hipótese. Tive a hipótese de ver, na minha área e noutras áreas, aquilo que eu não queria fazer. Porquê? Porque não era palpável, porque as mulheres pareciam fadas, muito voadoras, sem peso, porque os homens vêm salvar alguém e são heróis. E eu não queria isso. Queria um homem e uma mulher que estava sentado na plateia. Portanto, logo a primeira coisa que fiz foi mudar a roupa. A roupa era quase igual à das pessoas que estavam sentadas. E essas coisas reais era aquilo que eu queria sentir, queria ver. Queria ver refletidos os conflitos, as nossas vivências, o que era realmente o ser humano. Isso foi uma diferença muito grande daquilo que eu já tinha visto e isso partiu de mim mesma. Eventualmente influenciada pelo cinema, pelo teatro, pela ópera. Pela dor, pela morte, pela paixão. Penso que tem a ver com tudo isso. Tudo o que tem a ver com o meu próprio movimento, é graças ao tal corpo muito enraizado, com um tronco muito expressivo, com braços compridos. Eu tenho uma dinâmica muito própria. Cada um de nós tem uma dinâmica própria, aliás. Cada um de nós faz o mesmo gesto de maneiras diferentes. Por exemplo, os meus bailarinos improvisam para mim, não sou eu só a dizer “Vais fazer este movimento”. Obviamente que eu digo que gosto disto ou daquilo, juntando sempre qualquer coisa e imprimindo-lhes também uma dinâmica. E essa dinâmica não é eventualmente a dinâmica que eles próprios têm. Uma coisa que eu estou sempre a corrigir em cada espetáculo, em cada ensaio é realmente a dinâmica. É engraçado, porque a maior parte do movimento até é dos bailarinos, mas o tempo, a forma, os silêncios, as notas fortes (sem haver música) é uma coisa muito minha. Todos esses pequenos detalhes acabam por se concentrar num espetáculo fazendo com que o espetador olhe e sinta: “Isto só pode ser da Olga!”.

Isso é visível nesta peça Antes que matem os elefantes?

Imagino que sim, apesar de eu achar esta peça um bocadinho diferente. Esta é uma peça muito teatral, mas no seu âmago, não é teatral no sentido da dramaturgia. É teatral nos tempos. Apesar de não haver uma palavra. Depois, também fala de algo muito específico, algo que todos nós sabemos. É algo muito contemporâneo, que nos perturba a todos, algo que entra pela nossa casa todos os dias e fica um bocadinho banalizado, sendo uma coisa muito grave: a guerra, a dor, a insegurança. Eu sou um bocadinho contra essa banalização e contra o que está a acontecer e isso fez-me pensar como é que eu poderia dizer isto. Pela minha dança! É a única maneira que eu tenho. Mais do que passar uma mensagem, quero dar um espaço criativo ao público. Gostava muito que isso acontecesse… Um espaço de imaginação. É quase como se eu conseguisse pôr as coisas de tal maneira que o público olha e pode imaginar dali aquilo que quer imaginar. Eu imagino uma coisa, o público imagina outra… E esse espaço de imaginação que o artista dá ao público é o que deve ser. O que nós fazemos bem neste mundo é dar esse espaço! Fazer o público imaginar. No fundo, é fazer do público artistas também.

É esse o papel da arte em geral?

Sim. Uns mais reivindicativos que outros, uns mais diretos que outros… Esta peça obviamente é muito direta, muito forte porque é muito dura. Aliás, um dos meus grandes problemas era pensar: “que horror, no aniversário do Theatro Circo vou apresentar uma peça duríssima?”. Mas depois soube que a peça revertia a favor das crianças sírias e vi que era um ótimo gesto. De certa forma as pessoas já vêm emocionalmente prontas para ver algo que é sério e que é triste. As pessoas vão sair daqui com um “murro no estômago”.

A Olga contou-nos o seu percurso com um brilhozinho de satisfação nos olhos, porque se sente muito orgulhosa do que conquistou. Mas e agora? Tem planos futuros?

Eu gostava de não fazer planos (risos). Queria viver o dia a dia apenas. Mas nós temos de trabalhar: já tenho a coprodução de 2018, já estou a pensar em 2019… Portanto, quer eu queira, quer não, sou sempre empurrada para pensar um ano, dois anos à frente, candidaturas a quatro anos até… Isso assusta um bocadinho a partir de uma certa idade. Eu estive doente há pouco tempo, há dois anos, e de repente tudo começa a ser pensado de modo diferente. Eu estou muito bem neste momento. Mas, realmente, até aos 40 anos, o “ir para a frente” era uma coisa que não tinha fim. No entanto, quando chegam os 60 e caminhas para os 70, há um fim. Mas isso há para toda a gente. Contudo, ao mesmo tempo, é bom todos os dias levantar de manhã sem esse fim. Obviamente que tenho essa consciência, mas arranjo tanta coisa para pensar que acabo por não pensar nisso. Se não tiver nada para fazer vou escrever um livro, vou ler, vou ao cinema, nunca dou aquele espaço – a não ser aquele espaço de pensamento sobre as coisas que eu preciso – de tédio, que é um bocadinho perigoso.

Mas uma pessoa que nasce bailarina, nunca deixa de ser bailarina…

(risos) Sim! Já me disseram várias vezes que eu iria morrer bailarina. E eu respondo tristíssima: “mas eu não vou dançar mais…”. Quando me perguntam a profissão, a primeira coisa que eu respondo é bailarina. As pessoas olham para mim e pensam “bem, já tem idade para ser minha avó. É bailarina de quê?”. E eu lembro-me disso quando me vejo ao espelho, porque realmente vejo que já não sou a mesma miúda. Mas ainda sou a mesma Olga, mais sábia, mais consciente, mais adulta. Mas não tive grandes mudanças na minha vida, não planeei as coisas como tanta gente faz: agora vou ter filhos, agora vou cuidar dos netos, agora vou reformar-me. Não! A minha vida está em plano. Há um núcleo central que é este meu estar. A minha vida privada existe no estúdio. Eu quando vou para casa vou descansar. A minha vida privada é vivida no palco. É ali que me dou toda, que eu estou toda despida.

Como é que se lida com a paragem?

Como eu ainda não parei efetivamente, porque continuo a coreografar, não sei (risos). Ainda recentemente me perguntaram quando é que eu vou fazer o próximo solo…

A Olga já tinha tido oportunidade de pisar o Theatro Circo e agora volta com esta peça. O que é que acha deste nosso Theatro Circo?

É lindo! É um bocadinho “pesado”, como toda cidade de Braga, uma cidade que é um verdadeiro poder de Religião. Mas o Theatro Circo é um dos teatros mais “bolo de noiva” que existe no país.

Em Braga, existem várias escolas de dança e vários miúdos que se interessam pela dança, participando até em concursos internacionais. Quer deixar alguma mensagem de incentivo a estes miúdos que estão a dar os primeiros passos num mundo que a Olga conhece tão bem?

Sim, eu queria deixar uma mensagem que não sei bem se é mais direcionada para os pais, para os professores ou para os alunos. Atenção a esses concursos! Atenção à técnica, atenção ao virtuosismo. Porque a dança não é só isso. Já tive alguns exemplos de adolescentes que o máximo a que chegaram foi a conquista de um prémio de primeiro lugar num concurso. A partir daí não fizeram mais nada. Porque foram tão sacrificados pelos professores para ter um preciosismo que, às tantas, a dança tornou-se um fantasma, um bicho papão. E a dança não é só isso. Não devemos massacrar as crianças para que elas façam muitas piruetas e saltar muito. A dança é muito mais que isso. A dança é algo que tem de vir de dentro de nós. Realmente, bailarinos há muitos, intérpretes e artistas há muito poucos. Por isso, atenção para não massacrar assim tanto as crianças. É necessário dizer “menos”. O importante é gostarem! E, sobretudo os que não ganham, não devem ficar muito tristes por não ganharem. Porque isso não tem nada a ver. Podem ser eles que vão ganhar uma vida!

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