Revista Rua

2023-11-14T23:29:21+00:00 Opinião

O porquê de Cristas não compreender Lisa Simpson

Sociedade
João Rebelo Martins
2 Agosto, 2019
O porquê de Cristas não compreender Lisa Simpson

Gosto de me imaginar numa sociedade organizada pelo mérito: uma hierarquia, uma pirâmide, que se vai construindo desde a base e no topo está uma elite. Seja no mundo das artes, da alta finança, numa padaria, nos calceteiros. E quem está no topo deverá ser uma referência profissional, moral, ética para os da base e, assim, motivá-los a crescer no campo pessoal, comunitário e profissional.

Gosto de pessoas de índole vertical, portadores de valores ancestrais, que vêm do classicismo e que são seus por nascimento ou porque lutaram para conseguir algo que o berço, à partida, o tinha negado.

What´s your dream?”, pode ler-se em murais, publicações, motivações artísticas, desde a criação dos Estados Unidos da América enquanto espaço físico de gente de todo o mundo, ainda antes de serem um país.

A perspectiva da sociedade onde o mérito impera está bem patente e é personificado no chamado Sonho Americano: de Nova Iorque a Detroit, de Chicago a Miami, de Boston a L.A., pessoas que levavam apenas um sonho e a roupa rota do corpo, sabiam que podiam singrar na vida, adquirir melhores condições para si e os seus.

Os Simpsons – sou fã desde 1989, da primeira série! – são a imagem de uma família de classe média norte-americana: barulhentos, trabalhadores, sonhadores, a viverem no limiar das hipotecas, com dramas que lhes cortam o chamado elevador social e onde o dinheiro é sempre um problema.

Voltando ao início da minha crónica, gosto de uma sociedade organizada pelo mérito: uma sociedade de elite. E aqui temos um problema de verbo: elite são os que mais são; contrariamente ao que se costuma dizer que é os que mais têm.

Lisa Simpson é a personagem que sabe o que é o mérito e o valor do trabalho: é a melhor aluna da turma e não gosta de ser menos do que isso, percebe de jazz, literatura, política, meio-ambiente. É a voz da consciência na série, feminista, apoia o direito dos homossexuais, a libertação do Tibete, é militante do Partido Democrata; apesar de ter aquele pai e irmão – escuta-os e ama os dois!

Lisa é uma menina onde, nos episódios em que se vê o futuro da família, se percebe que teve uma carreira distante de Springfield e chegou a Presidente dos EUA. Tal só deverá ter sido possível por seu mérito próprio.

Assunção Cristas, há dias, referiu que “é possível e desejável que haja mais oportunidades e mais oferta para quem não fica colocado dentro do numerus clausus existentes”, “possa ser criada a possibilidade de, dentro da autonomia das instituições do ensino superior, elas próprias criarem vagas adicionais” a “preços de mercado”.

Onde ficaria a Lisa neste mundo?

No seu lugar porque ela é a melhor aluna. Mas aplicando a ideia da líder centrista, Bart poderia ficar com um lugar em pé de igualdade com o da irmã, caso Homer pagasse para isso. O ónus do mérito passa do aluno para o trabalho dos pais. Felizmente Bart não tem pretensões em ser como a irmã e os Simpsons não têm dinheiro para tal extravagância. Mas nem toda a gente é humilde a esse ponto.

Voltando ao início da minha crónica, gosto de uma sociedade organizada pelo mérito: uma sociedade de elite. E aqui temos um problema de verbo: elite são os que mais são; contrariamente ao que se costuma dizer que é os que mais têm.

Nota: Este artigo não foi escrito segundo o novo acordo ortográfico.

Sobre o autor:
Consultor de marketing e comunicação, piloto de automóveis, aventureiro, rendido à vida. Pode encontrar-me no mundo, ou no rebelomartinsaventura.blogspot.com ou ainda em instagram.com/rebelomartins. Seja bem-vindo!

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